O título da exposição, Realidades e Simulacros, explora a pluralidade que surge como resultado do uso do “s” ao final das palavras e a aparente oposição entre a realidade e a ficção. Durante muito tempo as pessoas acreditaram na existência de uma realidade única, objetiva. Mas o fato é que esta realidade não existe. Existem muitas realidades que se sobrepõem, se complementam, se anulam, se contradizem. Realidades e Simulacros são dimensões de uma mesma experiência.
Olhar para o mundo é como vestir uma lente de linguagem, fazendo com que as coisas apareçam conforme a visão de mundo da pessoa. Existem muitos condicionantes que regulam o alcance e o escopo dessas lentes: culturais, geográficos, políticos, biológicos, sociais, tecnológicos. Geralmente elas são invisíveis, mas a tecnologia contemporânea tem lhes emprestado concretude. Por meio de um avatar, navegando em um ambiente, sobrepondo uma existência digital ao mundo ao redor, é possível vestir as lentes de uma realidade alternativa à realidade percebida apenas por meio dos meus sentidos.
Realidades e Simulacros reúne dez artistas que criaram experiências digitais de diferentes perfis como forma de contribuir para este jogo de multiplicidades. Ver um outro mundo, uma outra cultura, uma outra geografia, uma outra política, uma outra biologia, uma outra sociedade, uma outra tecnologia. Ao explorar a realidade aumentada como uma possibilidade de interferência na paisagem do Ibirapuera, a exposição estimula essa dinâmica. O visitante é então convidado a perceber a realidade ao redor de outra maneira e sobrepor outras camadas de realidade à sua existência.
As obras criadas especialmente para a exposição permitem o contato com diferentes realidades e/ou simulacros. O simulacro também é uma realidade. Uma realidade lúdica. Uma realidade política. Uma realidade fantástica. Uma realidade contraditória. Uma realidade biológica. Uma realidade invisível. Uma realidade decolonial. Um mosaico de existências que se sobrepõe a um ambiente complexo e diverso. Uma experiência de camadas que tornam possíveis novas formas de ver e ouvir.
Cauê Alves
Marcus Bastos
curadores
Você tem fome do que?
A alimentação é um problema mundial que afeta particularmente o Brasil. Por outro lado, o mercado de biocombustíveis compete por espaços com as plantações de comida. Como Brasil é uma potência agrícola, a disputa torna-se acirrada: nossa prioridade é alimentar o planeta ou substituir o petróleo por álcool e biodiesel?
Para refletir sobre o desafio agrícola contemporâneo, foram reunidos no parque do Ibirapuera nove criadores de jardins em torno ao tema da alimentação. Criaram-se espontaneamente duas interpretações sobre o assunto entre os participantes: alimentação do corpo ou do espírito. A questão foi enfrentada poeticamente, ampliando as possibilidades de reflexão sobre os desafios da alimentação mundial.
A parceria com o Festival Internacional de Jardins de Chaumont-sur-Loire possibilitou um intercâmbio com a França, país de longa experiência em jardinismo. Paisagistas europeus foram convidados para criar seis jardins, juntamente com três artistas brasileiros que executam suas primeiras obras de jardinagem.
Ao passear pelo festival, o público irá deparar-se com os diversos jardins que interromperam a paisagem horizontal do Ibirapuera. Assim, o visitante identifica a artificialidade do cultivo agrícola, pois cada jardim cria um mundo particular em meio ao amplo parque.
A alimentação depende do domínio da tecnologia e de seu uso transformador da natureza em artifício. Somos responsáveis pelo uso contemporâneo da Terra para alimentar a humanidade. Perceber responsabilidade exige a distinção entre cultivo e natureza.
Felipe Chaimovich
Curador do Museu de Arte Moderna de São Paulo
O Festival Internacional de Jardins de Chaumont-sur-Loire
Criado em 1922, o festival é instalado à sombra do castelo de Chaumont-sur-Loire com o objetivo de evidenciar a riqueza e a diversidade da arte dos jardins de hoje e demonstrar a abundância de tendências nesse campo.
Nossos jardins efêmeros são renovados anualmente a partir de um tema, ensejando a realização de um concurso internacional. A escolha dos paisagistas, a criatividade e a diversidade das técnicas e das propostas apresentadas, assim como o entusiasmo exponencial do público pela natureza e pelos jardins, fazem de Chaumont um lugar de encontros especiais, um canteiro de talentos e de ideias novas.
Juntamente com o festival, o parque de paisagens, o vale de brumas, a senda dos ferros selvagens, a horta biológica e o jardim infantil propõem ao público jardins permantentes que, evoluindo ao longo das estações, valeram a Chaumont o título de “jardim notável”.
Desde 2008, o festival está inscrito em um Centro de Artes e Natureza que desenvolve um projeto de arte contemporânea que permite acolher anualmente no Domaine, desde então propriedade da Région Centre, vinte exposições e instalações de artistas vindos do mundo inteiro.
É uma grande honra para o Festival Internacional de Jardins de Chaumont-sur-Loire ser convidado do Museu de Arte Moderna de São Paulo. A melhor resposta a esse convite é levar ao Brasil grandes paisagistas franceses da atualidade. Luis Benech, Michel Racine & Béatrice Saurel, Christine & Michel Péna, Dimitri Kenakis & Maro Avraboum Erik Borja e Florence Mercier conceberam para o parque Ibirapuera, com muito entusiasmo e imaginação, jardins sobre o tema da alimentação, essencial para o mundo de hoje e de amanha.
Chantal Colleu-Dumond
Diretora do Domaine e do Festival Internacional de Jardins de Chaumont-sur-Loire