Na última década, vimos a destruição de um vasto patrimônio cultural e natural. Em 2013, o Memorial da América Latina pegou fogo. Dois anos depois, em 2015, foi a vez do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. O Museu Nacional, no Rio de janeiro, com cerca de 20 milhões de itens, em 2018 foi totalmente destruído pelo fogo. Em 2021, ocorreu o mais recente dessa série de incêndios no acervo da Cinemateca Brasileira. Isso sem contar os vários quilômetros quadrados que foram queimados como instrumento de desmatamento na Amazônia e no Pantanal.
Pintura de emergência (2021-2022), de Marcius Galan, para o Projeto Parede do MAM, pode ser compreendido tanto a partir desse panorama catastrófico como, também, a partir de um sentido mais indireto. Estamos numa época de temperaturas altas por conta do aquecimento global causado pelas mudanças climáticas, mas também num ambiente acalorado por conta do debate político.
Partindo da sinalização de emergência que serve para reduzir riscos de destruição e contribuir para localização dos equipamentos de segurança como hidrantes e extintores de incêndio, o artista realiza uma pintura que faz uso da geometria mundana, aquela encontrada no cotidiano e sem qualquer sentido transcendente. Como estratégia de composição, Marcius Galan se vale da repetição de um módulo básico de vermelho e amarelo. A justaposição na vertical e horizontal da sinalização enfatiza a ideia de urgência e cria um ritmo, uma espécie de expectativa do próximo módulo.
As formas retangulares usadas pelo artista claramente fazem referência à tradição da pintura construtiva geométrica, que teve entre os seus protagonistas os artistas concretistas e neoconcretistas dos anos de 1950 e início dos anos de 1960. Entretanto, em vez de buscar a racionalidade universal das formas geométricas ou tentar romper com a representação da natureza, o artista, não sem um tom de ironia, nos ajuda a compreender o tempo em que vivemos.
No momento em que o MAM São Paulo apresenta em sua programação a segunda geração da arte moderna que enfatizou a abstração, Marcius Galan atualiza uma reflexão sobre esse período do ponto de vista contemporâneo. Se nos anos de 1950 o Brasil viveu um surto desenvolvimentista industrial, embalado no slogan de Juscelino Kubitschek “50 anos em cinco”, que projetava um país moderno e civilizado, hoje estamos diante de uma distopia, de incêndios e emergências.
Cauê Alves
Curador
Curadoria: | Cauê Alves |
Período expositivo: | 22 de janeiro até 26 de junho de 2022 |
Local: | Museu de Arte Moderna de São Paulo |
Endereço: | Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3) |
Horários: | terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30) |
Telefone: | (11) 5085-1300 |
Ingresso: | R$25,00 inteira. Gratuidade aos domingos. Agendamento prévio necessário. |
Meia-entrada para estudantes, com identificação; jovens de baixa renda e idosos (+60). Gratuidade para crianças menores de 10 anos; pessoas com deficiência e acompanhante; professores e diretores da rede pública estadual e municipal de SP, com identificação; sócios e alunos do MAM; funcionários das empresas parceiras e museus; membros do ICOM, AICA e ABCA, com identificação; funcionários da SPTuris e funcionários da Secretaria Municipal de Cultura.