Diálogos com Palatnik

Diálogos com Palatnik

03 jul 14 – 15 ago 14
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 A convite do museu, curador Felipe Scovino seleciona obras do acervo do MAM que tem relação com a pintura e a usam como suporte

 Para aprofundar o conhecimento na produção de Abraham Palatnik, o Museu de Arte Moderna de São Paulo convidou o curador Felipe Scovino para realizar uma exposição com o acervo do MAM que conversasse com a retrospectiva Abraham Palatnik – A Reinvenção da Pintura.  Assim, nasce Diálogos com Palatnik, apresentada de 2 de julho a 15 de agosto, na Sala Paulo Figueiredo. Com 39 obras de26 artistas diferentes, a mostra caminha por duas vertentes que são próprias na trajetória desse artista: a capacidade de alargar as propriedades sobre a pintura – e concomitantemente sobre a arte construtiva – e a aplicação da artesania na fabricação das obras, criando um sentido particular sobre o que significa a ideia de inventor nas artes visuais.

“Palatnik afirma que tudo o que faz é pintura. Nos objetos tridimensionais é a luz, a cor e o movimento que o interessam. Também surge a artesania com a reflexão sobre como o signo da pintura pode ser identificado para além de tinta sobre a tela ao adicionar pregos, barbante, adesivos, tecidos, tapeçaria e outros objetos,” explica Scovino. “A forma como cria as obras, que envolve sistemas eletrônicos produzidos de forma caseira – tendo parafusos e motores elétricos como complemento aos pincéis -, transmite a ideia do inventor e da manufatura em Palatnik,” completa o curador.

Se Objetos cinéticos são pinturas no espaço, a artista Leda Catunda articula outra qualidade para a pintura ao pensar o tecido e a espuma como tela na obra Babados (1988), um relevo que usa materiais que não são próprios da pintura para torná-la mais humana. A peça Garrafas (1995), de Emmanuel Nassar, exibe garrafas de vidro, cortiça, arame, pregos e guache sobre madeira, o que a situa entre o construtivismo e o neoplasticismo, pois oferece um mundo particular e real, reunindo elementos como o cinismo, a violência e o improviso. Se em Nassar o improviso chama a atenção, na obra Cheio, vazio (1993), de José Leonilson – um bordado e costura em tecido de algodão-, a forma construtiva aparece cercada de delicadeza e suavidade, sem negar a atmosfera de violência e exclusão que o artista sofreu.

Também há um grupo formado por artistas ligados às pesquisas de tendência construtiva que experimentaram a escultura e a fotografia como elementos. Com seis fotografias presentes na mostra, Geraldo de Barros nunca deixou de registrar, pensar e discursar sobre o mundo como um pintor. “A escolha por determinada perspectiva, o jogo entre luz e sombra, a técnica em permitir que a arquitetura não fosse um anteparo ou cenário para as fotos mas o próprio personagem são atitudes típicas de um artista que tem o pensamento pictórico como lema”, afirma o curador.

Nos casos específicos de Mary Vieira, Sergio Camargo e Willys de Castro, as obras exibidas criam outras possibilidades para a arte cinética sem abdicar de uma complexa engenharia, pois são formadas por uma economia de elementos assim como por uma tecnologia simples e direta. A artista Jac Leirner usa etiquetas adesivas e material gráfico com a logomarca do MAM para criar um jogo visual que relaciona design e estética construtiva, elementos que são caros a Palatnik. As obras de Cem temas, uma variação (2001) equilibram dispersão visual e harmonia por meio de gestos mínimos e precisos.

A exposição possui um núcleo de inventores, seguindo uma espécie de metodologia à la Palatnik. Destacam-se nesse grupo, o coletivo Chelpa Ferro e os artistas Guto Lacaz, Marcelo Silveira e Paulo Nenflidio, com trajetórias que não têm relação direta com as tendências construtivas e tampouco possuem signos geométricos nas obras apresentadas, porém flertam com a manufatura, o apuro técnico e a integração com a tecnologia, além de considerarem uma outra relação com o ateliê, variando entre uma semelhança com uma oficina ou um lugar multifacetado em que predomina o dado meticuloso no exercício da produção manual.

Há ainda obras de artista do calibre de Alfredo Volpi, Aluísio Carvão, Nelson Leirner, Raymundo Colares, José Damasceno, José Spaniol e Sergio Camargo, entre outros. “Desta forma, a mostra exibe uma propriedade que transmite à pintura uma característica de amplitude, confundindo-se com a escultura, o design, o objeto e todo e qualquer suporte. É essa característica de invenção que sempre interessou a Palatnik e que de forma direta ou indireta poderá ser vista no trabalho desses artistas” finaliza Felipe Scovino.

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