No corredor de acesso à Grande Sala do museu, a instalação 3D Bandes Décimées brinca com diferentes formas abstratas feitas de forma invertida aos cálculos precisos usados pelo artista François Morellet.
Para ocupar o Projeto Parede do segundo semestre de 2016, o Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta a instalação 3D Bandes décimées, de autoria do artista François Morellet, reconhecido pela atuação na arte cinética e morto no último dia 11 de maio, aos 90 anos, em Paris. Originalmente, o francês criou a obra em duas partes: em uma parede fez uma sequência repetida de sobreposição de linhas com um sistema matemático calculado e rigoroso; na outra parede, essas sequências são replicadas de forma invertida e negativa, criando formas aleatórias e abstratas. No MAM, apenas a parede de desenhos será apresentada no corredor de acesso entre o saguão de entrada do público e a Grande Sala do museu a partir do dia 20 de junho e permanece no espaço até 18 de dezembro.
Em vídeo, o artista declarou que amava essa obra pela precisão apresentada. Ao fazer um emparelhamento improvável, Morellet conseguia combinar brincadeiras com sistemas matemáticos rigorosos. “Calculando a sequência de linhas, eu não imaginava a variedade de formas que seriam criadas, o que causa diversos pensamentos e criações de histórias sobre cada uma delas por parte do observador”, disse o artista em vídeo gravado no ano passado quando inaugurou a obra na mostra DASH DASH DASH, que reuniu trabalhos novos e históricos na galeria Blain|Southern, em Berlim, na Alemanha.
Destaque da arte cinética, François Morellet trabalhou com formas geométricas ao longo de toda carreira. Embora tenha usado grande variedade de meios e técnicas, o interesse por linhas, grades e a harmonia de linhas dentro do espaço sempre foram uma constante. Ao empregar o construtivismo e sistemas matemáticos, o artista jogava com expectativas visuais, onde planos e linhas são inclinadas, a simetria é perturbada e a geometria é alterada.
Circuito das águas
Trinta metros de canos plásticos, uma pia de alumínio, um hidrômetro. Esses materiais estão articulados em um circuito longo e estrito, formando um retângulo que se interrompe pelo fluxo contínuo de um líquido escuro. Estrutura simples, desenho mínimo, crítica direta: assim é Águas negras, instalação Nicolás Robbio no Projeto Parede.
Radicado em São Paulo há anos, o argentino Nicolás Robbio tem seu trabalho alicerçado no desenho. Ele não entende o desenho como um traçado, mas como linha que pode se apresentar gráfica ou materialmente, ou ainda pela sombra projetada de algum objeto. Em suas instalações, a combinação de objetos e linhas se fecham em circuitos capazes de representar o que não pode – ou não deve – acontecer de verdade, como água jorrando em plena crise hídrica.
MAM retrata corpos indomáveis e histéricos na exposição O útero do mundo
A curadora Veronica Stigger selecionou cerca de 280 obras de 120 artistas contemporâneos em que o corpo aparece como lugar de expressão de um impulso desvairado e que se apresenta transformado, fragmentado, deformado, sem contorno ou definição. São pinturas, desenhos, fotografias, esculturas, gravuras, vídeos e performances do acervo do museu de nomes como Lívio Abramo, Farnese de Andrade, Claudia Andujar, Flávio de Carvalho, Sandra Cinto, Antonio Dias, Hudinilson Jr., Almir Mavignier, Cildo Meireles, Vik Muniz,Mira Schendel, Tunga e Adriana Varejão
A partir de 5 de setembro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta a exposição O útero do mundo, que reúne cerca de 280 obras pertencentes ao acervo do MAM que mostram a indomabilidade e as metamorfoses do corpo. Com curadoria da escritora e crítica de arte Veronica Stigger, as produções selecionadas – num universo de mais de cinco mil trabalhos da coleção do museu – são de variados suportes como fotografia, pintura, vídeo, gravura, desenho, escultura e performance de mais de 120 artistas que revelam um corpo que não respeita a anatomia e liberto de amarras biológicas e sociais. Baseada na proposição dos surrealistas de compreender a histeria como uma forma de expressão artística, a apurada seleção da curadora faz um elogio à loucura, ilustrando esse “corpo indomável” que, embora reprimido pela humanidade, manifesta-se no descontrole, na histeria e na impulsividade.
Para organizar a mostra, a curadora recorreu a três conceitos extraídos da obra da escritora Clarice Lispector que servem como fios condutores que separam os trabalhos nos núcleos Grito ancestral, Montagem humana e Vida primária. Segundo Veronica, a autora naturalizada brasileira retomou com brilho o elogio ao impulso histérico. “Clarice organizou um pensamento simultâneo da forma artística e do corpo humano como lugares de êxtase e de saída das ideias convencionais, tanto da arte quanto da própria humanidade”, afirma. São exibidas, conjuntamente, obras de artistas celebrados como Lívio Abramo, Farnese de Andrade, Claudia Andujar, Flávio de Carvalho, Sandra Cinto, Antonio Dias, Hudinilson Jr., Almir Mavignier, Cildo Meireles, Vik Muniz, Mira Schendel, Tunga, Adriana Varejão e muitos outros, além de duas performances de autoria de Laura Lima.
Grito Ancestral
Abrindo a mostra, Grito ancestral contém obras que representam uma série de gritos. “É como se esse som, anterior à fala e à linguagem articulada, atravessasse os tempos e rompesse com as próprias imagens”, explica a curadora. “O grito se contrapõe à ponderação e pode ser visto como indício de loucura. Gritar é, em certa medida, libertar-se das frágeis barreiras que delimitam aquilo a que convencionamos chamar de ‘cultura’ em oposição à ‘natureza’ e ao que há de selvagem e indomável em nós”, afirma. Nessa área estão expostos três autorretratos da série Demônios, espelhos e máscaras celestiais, de Arthur Omar, artista com trabalhos que demonstram estados alterados de percepção e de exaltação. Também fazem parte a fotografia O último grito, de Klaus Mitteldorf; a colagem Medusa marinara, de Vik Muniz; fotos de performances de Rodrigo Braga; a gravura Mulher, de Lívio Abramo; além de imagens em preto e branco de Otto Stupakoff. Com a série Aaaa…, a artista Mira Schendel apresenta uma escrita que não constitui palavras ou frases e em que se percebe a desarticulação da linguagem e uma volta ao estado mais bruto e inaugural.
Montagem humana
Neste nicho são apresentados corpos fragmentados, transformados, deformados e indefinidos, o que prova a indomabilidade do mesmo. Na exposição é percebido como o traço se convulsiona nas obras intituladas Mulheres, de Flávio de Carvalho, nos desenhos de Ivald Granato e nas produções de Tunga, Samson Flexor e Giselda Leirner. Nas fotografias, é a falta de foco que borra o contorno da figura nas imagens de Eduardo Ruegg, Edouard Fraipont e Edgard de Souza. Com o uso da radiologia, é possível verificar o interior do corpo humano nas obras de Almir Mavignier e Daniel Senise. Destacam-se ainda as fotografias feitas por Márcia Xavier, um desenho de Cildo Meireles e as produções que misturam imagens, couro e madeira de Keila Alaver que representam, literalmente, corpos transformados e fragmentados.
Vida Primária
Este nicho dá vez às formas de vida mais elementares, como fungos, flores e folhagens. “Este tipo de vida desestabiliza a percepção que temos da própria vida porque, de certa maneira, deteriora as coisas do mundo ‘civilizado’”, explana Veronica. Isso é ilustrado na série Imagens infectas, de Dora Longo Bahia, em que um álbum de família é alterado pela ação de fungos. Em Vivos e isolados, Mônica Rubinho usa papéis propositalmente fungados em placas de vidro para promover a geração desta espécie. No vídeo Danäe nos jardins de Górgona ou Saudades da Pangeia, Thiago Rocha Pitta propõe uma leitura mitológica da vida primária. Ainda são exibidas partes do corpo como o coração feito de bronze, de autoria de José Leonilson, e a foto Umbigo da minha mãe, de Vilma Slomp. A vagina, porta de entrada e de saída do útero, é mostrada em diversos trabalhos como nas gravuras de Rosana Monnerat e de Alex Flemming, nas fotografias da série vulvas, de Paula Trope e no desenho Miss Brasil 1965, de Farnese de Andrade.
Com curadoria de Aracy Amaral e assistência de Paulo Portella Filho, a mostra traz 74 obras em menores dimensões que serviam como estudo antes do artista pintar as grandes telas. Os trabalhos, das décadas de 1930 a 1970, pertencem à coleção de Ladí Biezus
Mostrar uma faceta diferente de um artista tão aclamado e reconhecido como grande mestre da pintura brasileira do século XX: esse é um dos objetvos da mostra Volpi – pequenos formatos, que o Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta a partr de 20 de junho. São exibidas 74 obras de Alfredo Volpi (1896-1988), entre telas e desenhos sobre papel e azulejos feitos em menores dimensões, em média de 30×20 cm, que serviam como estudo antes que pintasse as telas maiores. Todos os trabalhos pertencem ao colecionador Ladí Biezus, que coleciona pinturas de todas as fases da carreira do artista.
Com curadoria de Aracy Amaral e assistência de Paulo Portella Filho, a exposição abrange pinturas realizadas desde os anos 1930 até o fnal da década de 1970, passando pelo período impressionista inicial, da fase dos casarios, pelo período do abstracionismo geométrico das
fachadas até chegar as fases finais como das bandeirinhas e das ogivas. “Toda a riqueza de estudos cromáticos de Volpi aparece na seleção como uma faceta nem sempre acessível ao olhar de interessados das novas gerações, que poderão apreciar um pouco da intimidade do processo de trabalho do grande pintor, ” afirma a curadora.
Segundo Portella, as obras são expostas com orientação cronológica para favorecer a compreensão do desenvolvimento temporal da linguagem do artsta. “A produção de Volpi tem referenciais temáticos distintos com a passagem do tempo. Obedecendo a essa sequência natural, primeiro são apresentados os trabalhos da juventude do artista, com cenas do cotidiano urbano do bairro Cambuci, em São Paulo, obras que já sinalizam compromisso com a cor e a organização espacial”, explica o curador. “Também pode-se notar que a figura humana, presente nesse período, aos poucos desaparece da produção”.
Na sequência, são exibidas as obras dos anos 40 que se caracterizam pelas paisagens urbanas e marinhas das cidades de Mogi das Cruzes e Itanhaém (locais importantes para o artista), além de crianças e imagens de caráter religioso. Continuando o fluxo do percurso, as décadas de 50, 60 e 70 focam em obras de caráter não figuratvo e geometrizante. “É neste segmento que se encontram as famosas pinturas de casarios e fachadas arquitetônicas que sinalizam a redução à essencialidade formal e nada realista, ” complementa Portella.
Concebido pelo arquiteto Vasco Caldeira, o ambiente expográfco da Sala Paulo Figueiredo dá destaque as obras com a proposta de privilegiar o rigor e a simplicidade. Apresentados em pequenos grupos, intercalados com textos da curadoria, há trabalhos em têmpera sobre papel, cartão e tela; óleos sobre madeira e sobre cartão; guouache sobre papel; desenho sobre cartão; pastel sobre cartão, pintura sobre azulejo e óleo sobre tela colado em cartão. As pinturas são acondicionadas em molduras e os desenhos ocupam uma vitrine junto com o conjunto de azulejos. A exposição tem patrocínio do Banco Bradesco.
Destaques e diferenciais
Entre as obras apresentadas, destacam-se os oito desenhos a grafite, que, segundo o colecionador Ladí Biezus, serviam inegavelmente como estudos antes de fazer um quadro.
“Esse rascunho ficava tão bom que as pessoas imploravam para comprar. Eu mesmo adquiri alguns no mercado, mas como eles foram feitos com lápis a grafite, infelizmente, o desenho se sublima, então eles vão desaparecendo, o que é uma grande pena porque são lindíssimos”,
explana o colecionador. Os desenhos exibidos pertencem a décadas distintas, sendo um dos anos 40 – que é um estudo para azulejo-, além de três da década de 50; mais três dos anos 60 e, por fim, dois da década de 70.
Outro diferencial da mostra é a exibição de quatro pinturas sobre azulejos que Volpi produziu, nos anos 40, para a Osirarte, empresa de azulejaria de Paulo Rossi Osir, que executava encomendas para arquitetos e artstas. Para dar conta dos pedidos e ampliar o mercado, Osir contou com a colaboração de experientes no trabalho artesanal. Mario Zanini é o primeiro a integrar a equipe, seguido por Alfredo Volpi, que transformou-se numa espécie de “chefe” do ateliê-oficina ao solucionar problemas plásticos e técnicos. Na época, o processo utlizado era a do baixo esmalte, em que a pintura era feita sobre o azulejo não esmaltado. Depois, o desenho era feito sobre a superfície porosa, que absorvia a tinta com extrema rapidez e exigia elevada exatidão do traço.
Um fato importante é que Volpi não datava os trabalhos, mas sua produção tem períodos específicos bem distintos. Assim, os especialistas referem-se a eles como oriundos de décadas. “Os estudiosos debruçam-se sobre a obra do mestre para tentar datar, todavia, é muito complexa essa identifcação porque Volpi recorria frequentemente a temas já estudados deslocando-os temporalmente. Assim é comum ver as distinções como ‘produção de início dos anos 60’, ou ‘meados dos anos 50’ e ainda ‘fm da década de 70’ ”, declara Portella.
Coleção Ladí Biezus
O colecionador, engenheiro de formação, iniciou o acervo quando montou um apartamento e optou pela decoração com obras de estlo arquitetônico. Assim, num evento em homenagem a Tarsila do Amaral, conheceu Volpi e começou a frequentar o ateliê do artista. O acervo, então, começou com a aquisição de um quadro de uma marina. Depois, foi uma tela de bandeirinhas em tons de roxo e preto até chegar a grande quantidade de obras que possui hoje, que são de todas as épocas da produção do artista, de pequenas e de grandes dimensões, expostas lado a lado pelas paredes da casa de Ladí Biezus.
No início, a preferência do colecionador era pelos quadros feitos no final dos anos 1940, em que eram retratadas as marinas. Depois, as fachadas foram o ponto alto da coleção, pelo lado metafísico, quase sombrio, e com poucas cores e formas. As bandeirinhas, da década de 60, passaram a ser as favoritas por serem mais coloridas e infantis. Hoje, o colecionador considera-se aficionado pelos pequenos estudos por retratarem a inocência e a livre tentativa de acerto.
“Foi uma atração irresistvel porque as telas menores comunicam um momento de criação e de total espontaneidade, sem nenhuma solenidade, onde predomina a inocência e um Volpi mais brincalhão” relembra.
Ladí Biezus ainda relembra que nunca pressionou Volpi para pintar alguma coisa específca ou sob encomenda. Por isso, a maioria dos quadros que possui não veio diretamente do artista e sim comprados no mercado, inclusive os estudos que são o foco desta exposição. “O Volpi era extremamente pressionado pelos marchands e colecionadores, mas ele tinha uma autonomia enorme, pintava para quem quisesse e como quisesse, com aquele rigor pessoal e explosão de cores que só ele tinha”, relembra.
Legenda das obras (da direita para esquerda): Alfredo Volpi. Sem título, déc. 1970 [1971]. Têmpera sobre cartão, 44 x 22 cm. Alfredo Volpi. Sem título, déc. 1950. Têmpera sobre madeira, 49,5 x 14 cm. Alfredo Volpi. Sem título, déc. 1960. Têmpera sobre cartão. 23 x 32 cm. Alfredo Volpi. Sem título, déc. 1970 [1971]. Têmpera sobre tela, 24,5 x 33 cm. Alfredo Volpi. Sem título, déc. 1970. Têmpera sobre tela, 32,5 x 23,5 cm.
O Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta a mostra Clube de Gravura: 30 anos, com a exposição das 173 obras produzidas em três décadas por artistas de variados perfis e gerações. Desde 1986, o Clube de Colecionadores de Gravura do MAM cumpre o objetivo de fomentar o colecionismo brasileiro ao permitir que um grande número de interessados possa se associar e adquirir trabalhos de arte, incentivando também a produção artística. Em todos esses anos, o Clube viabilizou a execução de projetos especiais desenvolvidos por artistas convidados e, simultaneamente, ampliou o acervo do museu. Com curadoria de Cauê Alves, também gestor do Clube desde 2006, a mostra é apresentada na Grande Sala até 21 de agosto.
Durante o percurso expositivo, o público pode apreciar diferentes orientações adotadas pela curadoria nesses 30 anos. “Em 2006 foi realizada uma exposição para celebrar os 20 anos do Clube, então, dessa vez, as obras feitas na última década possuem mais destaque, já que nunca foram expostas, ” explica o curador. Dividida por painéis, a mostra é organizada como se fosse uma biblioteca ou um grande arquivo, lembrando a casa de um colecionador em que algumas paredes são mais cheias, com mais obras lado a lado, e outros contam mais espaço de vazio e respiro, para melhor observação dos trabalhos. Com projeto expográfico do escritório Andrade Morettin, a exposição não é montada em ordem burocrática ou cronológica, mas sim numa relação estilística e harmoniosa, apesar de obras da mesma década estarem próximas.
Na história do Clube, nunca houve uma linha determinada que privilegiasse uma ou outra tendência. Desde o início, foram realizados trabalhos próximos ao abstracionismo lírico e ao construtivismo e, aos poucos, artistas que não tinham a gravura como o campo prioritário também foram convidados. A partir da segunda metade da década de 1990, o museu convidou artistas da geração dos anos 1980, como Ana Tavares, Cláudio Mubarac, Daniel Senise, Fábio Miguez, Leda Catunda, Mônica Nador e Nuno Ramos, já num período mais maduro de produções artísticas. Eles atuaram ao lado de artistas consagrados como Regina Silveira e Evandro Carlos Jardim, nomes fundamentais para o desenvolvimento da gravura no Brasil. “Em 1996, o Clube mudou de orientação: se antes participavam sólidos gravadores, aos poucos os convites foram direcionados àqueles que faziam uso de outros meios, como a pintura ou a escultura”, explica o curador.
Então, interessado em acertar o passo com as discussões da cena contemporânea, que questionava a própria definição de gravura, o MAM assumiu o papel de laboratório e lugar de experimentação e deu liberdade para o desenvolvimento de trabalhos que superassem os limites da linguagem. A fotografia, entre outras novas tecnologias, o carimbo, fundidas com técnicas tradicionais, permitiram a elaboração de uma noção mais híbrida e alargada de gravura. “Desde então, o Clube prioriza uma visão problematizadora do estatuto da gravura e continua a estimular uma produção que privilegia a discussão”, argumenta Alves.
Depois de profundas e variadas experimentações, o MAM passou a editar gravuras que se afastaram de objetos tridimensionais como tinham sido os trabalhos de Iran do Espírito Santo, Sandra Cinto, Mabe Bethônico, Dora Longo Bahia e Jac Leirner. Porém, o Clube nunca deixou de investir na reflexão de problemas atuais da arte e que investigam os limites da gravura, seja herdando questões da pintura (como no caso de Cássio Michalany, Fábio Miguez, Hélio Cabral, Paulo Pasta e Tomie Ohtake) ou desdobrando questões de pesquisas (como José Damasceno, Cildo Meireles, Waltercio Caldas e Antonio Dias).
Ao longo da história, o Clube não deixou de convidar artistas com pesquisas consistentes em xilografia como os trabalhos de Fabrício Lopez (2010) que são impressos artesanalmente e gravados em grandes tábuas. Fernando Vilela, que possui sólida pesquisa em gravura, realizou Cidade (2014), trabalho em que fundiu a fotografia com a xilogravura. A imagem fotográfica também é um dos eixos curatoriais. Albano Afonso, Iole de Freitas e Nazareth Pacheco estão entre os que aumentaram a relação entre fotografia e gravura. Já a pintura e a escultura contribuíram no alargamento das linguagens. Enquanto Rodrigo Andrade se dedicou à gravura em metal na obra Estrada (2013), Paulo Monteiro mirou a serigrafia com a experiência da pintura com os objetos de chumbo em O miolo da coisa massa (2011).
Com o passar dos anos, o Clube de Gravura trouxe produções de artistas como Brígida Baltar, Cinthia Marcelle, Cristiano Lenhardt, Ernesto Neto, Laura Lima, Nino Cais, Jarbas Lopes, Rivane Neuenschwander e Tatiana Blass. Assim como convidou nomes mais experientes como Paulo Bruscky, Milton Machado e Nelson Felix. A maioria se interessou por caminhos experimentais em relação à gravura. A curadoria ainda explorou fronteiras ao convidar artistas que promovem contato entre noções de gravura e tradições distintas. Marepe, com suas cenas típicas do nordeste, apropriou-se de elementos como trouxas e barracas de camelô para refletir sobre o contexto dos itens. Ao retratá-los com carimbos infantis, os itens transformam-se em outras imagens, subvertendo o caráter burocrático do carimbo.
Convidada para realizar um livro/objeto, Elida Tessler desenvolveu Phosphoros (2014), a partir do romance Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, uma ficção científica em que livros e pensamento crítico são proibidos. O título é referente ao grau 451, temperatura da queima de papel na escala Fahrenheit. A artista gravou a laser numa placa de madeira todos os autores de um lado e títulos citados no outro. Cada uma das 122 obras é representada por um palito de fósforo numa caixa. O colecionador tem a possibilidade de queimar os palitos, mas isso significa destruir uma gravura e eliminar uma referência literária.
O engajamento político está presente, por exemplo, na poética de Lourival Cuquinha (2015), que trabalhou com imigrantes vindos de países africanos e da América Latina e que atuam como vendedores ambulantes. Tratados como cidadãos de segunda classe, desvalorizados e quase invisíveis, eles ganham visibilidade na gravura de Cuquinha, que adquiriu todas as mercadorias de cada um dos cem imigrantes escolhidos, tirou uma foto de frente e de costas da pessoa e as imprimiu em placas de cobre. A mercadoria adquirida, cujo valor é equivalente ao da placa onde o retrato está impresso, também compõe a peça final.
Sob a gestão de Cauê Alves, nos últimos dez anos, o Clube realizou ações para divulgar e refletir sobre a coleção de gravuras do MAM. A proposta da curadoria foi a de continuar com nomes consagrados ao lado de apostas, além de dar espaço para artistas reconhecidos no circuito, mas que não tenham ligação com a gravura. “O critério de orientação é sempre a qualidade dos trabalhos dos convidados. Por isso, os colecionadores assumem os riscos e os dividendos de ter trabalhos de arte pertencentes no acervo do museu em mãos”, avisa Cauê. “São raras iniciativas duradouras como a do Clube de Gravura, o que indica que, além de bem estruturado, possui relevância cultural, seja contribuindo na formação de coleções de arte, seja para o debate sobre a gravura e sobre as artes em geral”, finaliza o curador.
Como funciona
Nos Clubes de Colecionadores do MAM, os sócios recebem, a cada ano, cinco obras especialmente criadas por nomes prestigiados e selecionados pelos curadores responsáveis em conjunto com a curadoria do museu, o que confere credibilidade à aquisição. As obras são produzidas em tiragens de 100 exemplares, que são entregues aos sócios com certificado de autenticidade. Para participar do Clube de Gravura ou de Fotografia, os interessados se associam anualmente a um deles e, no final do ano, recebem as cinco gravuras ou as cinco fotografias. A edição é de 117 obras numeradas, das quais cem são distribuídas aos associados, duas são doadas ao acervo do MAM, três são destinadas ao Clube de Colecionadores, além de dez entregues ao artista e duas aos curadores dos clubes.
Histórico
Com apoio de artistas e sob a iniciativa da argentina Maria Pérez Sola, é fundado o Clube de Colecionadores de Gravura do MAM, em 1986. O Clube, que surge no ano seguinte ao da criação do Departamento de Artes Gráficas do museu, foi fundamental para a manutenção de atividades do novo setor e incentivar as artes gráficas. Iniciando as atividades na época da reabertura política e a redemocratização do País, após 20 anos de ditadura militar, o Clube sempre teve o objetivo de fomentar o colecionismo e incentivar a produção artística. Pérez Sola fica a frente da iniciativa até 1989, dando lugar a Liliana Lobo Ferreira, recém-chegada de Londres, onde estudou gravura na Slade School of Fine Arts. Em 1997, sai Liliana e entra Salete Barreto de Abreu, que assume até 2001. Com Tadeu Chiarelli como curador-chefe do museu, entre 1996 e 2000, o Clube passou por significativas transformações. Desde 2005, Fátima Pinheiro coordena os Clubes de Gravura e de Fotografia. Desde 2006, Cauê Alves é o curador, que para este ano escolheu artistas de peso no cenário nacional como Lenora de Barros, Nelson Felix, Cristiano Lenhardt e Brígida Baltar, além do argentino Jorge Macchi.
Arte é educação. A afirmação, bastante citada em espaços culturais, é oportuna para refletirmos sobre como esses conceitos têm sido compreendidos de forma restrita: muitas vezes a palavra educação remete apenas à escolarização e à apropriação de conteúdos, e a arte, apenas à produção de objetos.
Na contramão desse entendimento limitante, a presente mostra propõe situações de investigação e de encontro que partem da premissa de que todas as relações podem ser pedagógicas e de que as manifestações artísticas permitem imaginar o possível e o impossível, transcendendo a mera materialidade das obras e afetando a cultura e a sociedade. Assim, reunimos artistas que trabalham processos educativos na sua produção: as relações envolvidas no aprender e no ensinar são a matéria-prima de obras que se desenvolvem com a ação dos visitantes.
O patrono da educação brasileira Paulo Freire afirmou que “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Adicionamos a essa reflexão a célebre afirmação do artista Hélio Oiticica: “O museu é o mundo” e, com as obras Expediente, de Paulo Bruscky, e Café Educativo, de Jorge Menna Barreto, ambas pertencentes ao acervo do museu, deslocamos para esta sala os educadores do MAM, que ficarão em contato permanente com o público durante toda a exposição.
Comemoramos, assim, os vinte anos do Setor Educativo do MAM, que tem se caracterizado pela acessibilidade dos mais diversos públicos às mostras e ao cotidiano do museu, e pela reflexão contínua sobre a missão pedagógica das instituições culturais.
Daina Leyton e Felipe Chaimovich
Curadores
Inspirada no Cântico das Criaturas, de Francisco de Assis, mostra apresenta obras de artistas que utilizam elementos da natureza numa relação colaborativa
A partir de 27 de fevereiro, o MAM apresenta a exposição Natureza franciscana, que oferece uma noção contemporânea da relação colaborativa entre o ser humano e a natureza. Com curadoria de Felipe Chaimovich, a mostra é organizada a partir das estrofes doCântico das Criaturas, canção escrita por Francisco de Assis, provavelmente entre 1220 e 1226, reconhecida como texto precursor das questões referentes à ecologia.
Para contemplar a linha de arte e ecologia, o curador selecionou artistas que utilizam elementos da natureza em suas produções, reunindo 18 obras da coleção do museu somadas a 19 empréstimos, totalizando 37 trabalhos que são exibidos em diferentes suportes como fotografia, desenho, gravura, vídeo, livro de artista, instalação, obra sonora, objeto, escultura e bordado. “As obras originam-se de relações com os elementos descritos no Cântico: sol, estrelas, ar, água, fogo, terra, doenças e atribulações e, por fim, a morte”, explica Chaimovich, estudioso da obra de Francisco de Assis há 15 anos.
Sobre a exposição
Dividida conforme os elementos citados na canção Cântico das Criaturas, de Francisco de Assis, a mostra começa com o solrepresentado pela fotografia em cores Lâmpada (2002), da artista Lucia Koch, ao lado das fotografias em preto e branco The celebration of light (1991), de Marcelo Zocchio, e dos 12 livros da série I got up (1968-1979), do japonês On Kawara.
O elemento água é tematizado pelas fotografias A line in the arctic #1 e A line in the arctic #8 (2012), do paulistano Marcelo Moscheta, e pelas obras relacionados ao projeto Coletas, da artista multimídia Brígida Baltar, que incluem imagens da série A coleta da neblina(1998-2005), cinco desenhos de nanquim sobre papel (2004), a escultura de vidro A coleta do Orvalho (2001) e o vídeo Coletas (1998-2005).
Em contraponto, o fogo é simbolizado pelo vídeo Homenagem a W. Turner (2002), de Thiago Rocha Pitta, e pelos vestígios de fumaça sobre acrílico e sobre papel feitos pela escultora e desenhista Shirley Paes Leme. O elemento ar fica a cargo da escultura Venus Bleue,do artista francês Yves Klein. As estrelas são apresentadas por meio de sete fotografias do alemão Wolfgang Tillmans. Representando a terra, são expostas 30 caixas de papelão cheias de folhas e galhos de árvore embalados em plástico, papelão e fotografias em cores, instalação feita em 1975, por Sérgio Porto, além do relevo em papel artesanal (1981), de Frans Krajcberg.
As doenças e atribulações são tematizadas pela instalação Dis-placement (1996-7), de Paulo Lima Buenoz: numa sala com mobiliário, frascos de remédio, rosas, lona, giz e tinta, o artista demonstra os caminhos percorridos por ele para alcançar e tomar todos os remédios para combater os efeitos da Aids, antes do surgimento dos coquetéis anti-HIV. A artista Nazareth Pacheco exibe série de fotografias em preto e branco, de 1993, que mostram a malformação congênita do lábio leporino, dentes, raio-x e objeto de gesso.
Por fim, a morte é representada pelo último tecido bordado por José Leonilson antes de falecer, em 1993. Permeando a exposição, a instalação sonora Tudo aqui (2015), da artista Chiara Banfi, alcança todo o espaço expositivo e abrange todos os elementos representados.
CÂNTICO DAS CRIATURAS
Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
teus são o louvor, a glória e a honra e toda benção.
A ti só, Altíssimo, essas coisas
e nenhum homem é digno de te nomear.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente dom irmão sol,
que nos dá o dia e nos ilumina por ele.
E ele é belo e radiante com grande esplendor:
de ti, Altíssimo, ele traz significação.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas:
no céu tu as formaste claras e preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento
e pelo ar e as nuvens e o tempo claro e todos os tempos,
pelos quais dás sustento a tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água,
que é muito útil e humilde e preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo,
pelo qual iluminas a noite:
e ele é belo e alegre e robusto e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã a mãe terra,
que nos sustenta e governa
e produz diversos frutos com flores coloridas e plantas.
Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam pelo teu
amor e suportam doenças e atribulações.
Benditos aqueles que conservam a paz
Porque por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal,
da qual nenhum homem vivente pode escapar:
infelicidade para aqueles que morrem em pecado mortal;
benditos aqueles que estiverem fazendo a tua santa vontade
quando ela os surpreender,
porque a segunda morte não lhes fará mal.
Louvai e bendizei meu Senhor e agradecei
e servi-o com grande humildade.
Palavras do curador
Francisco de Assis pode ser considerado fundador da ecologia. Para ele, o ser humano tem uma relação de colaboração com os elementos naturais: a natureza não é subordinada aos interesses humanos. Embora o ser humano se posicione como uma parte singular da natureza, os demais elementos devem ser tratados por nós como membros de uma só família universal.
Francisco de Assis escreveu uma letra de música com suas ideias: o “Cântico das Criaturas”. Desde jovem ele cantava trovas de amor em francês. Nos últimos anos de sua vida, escreveu o “Cântico” na língua de sua terra natal, na Itália; nele, os diversos elementos naturais e as fases da vida são acolhidos como irmãos e irmãs.
Depois da morte de Francisco de Assis, em 1226, os Franciscanos incentivaram um novo olhar para o universo, enxergando nele traços de uma mesma geometria que uniria o pensamento humano aos elementos naturais. Os Franciscanos incentivaram a descoberta da perspectiva a partir dos estudos da geometria da luz e, assim, o nascimento da arte fundada no desenho em perspectiva.
Reunimos aqui artistas que colaboram com elementos da natureza e da vida em seus trabalhos. As obras estão agrupadas conforme as partes do “Cântico” de Francisco de Assis: sol, estrelas, ar, água, fogo, terra, doenças e atribulações, morte. A relação entre arte e ecologia torna-se evidente ao compreendermos a posição fundadora de Francisco de Assis em nossa cultura.
Felipe Chaimovich
Curador
Como dialogar sobre o Panorama da Arte Brasileira de hoje e ontem sem cair, mais uma vez, nos mesmos impasses, nas mesmas relativizações? Como, por outro lado, enfatizar os dias de hoje sem ignorar a parcela da arte que se esfacela pelas urgências de um mundo entregue ao consumo e ao espetáculo imediato? Esta exposição oferece a tais perguntas um novo conjunto de enigmas sobre os quais podemos refletir. E discutir. Ela possui uma dupla missão: primeiro, destacar uma parcela da história brasileira pouco conhecida tanto pelo grande público quanto por artistas e pesquisadores: uma seleção significativa de esculturas em pedra polida, primeiras manifestações tridimensionais de que se tem notícia, produzidas aproximadamente entre 4000 e 1000 a.C., encontradas em território que se estende no que hoje é o sudeste meridional do Brasil até a costa do Uruguai. Depois, apresentar um diálogo/provocação, na medida em que essas peças podem motivar as obras produzidas por artistas contemporâneos convidados a contrapor-se a esse imaginário, de acordo com suas próprias personalidades, pesquisas e meios.
Em meio ao universo caótico de nossa realidade, à parte a violenta história de dominações e colonialismos que vivenciamos, emergem essas poderosas pequenas esculturas cujos sentidos originais se perderam, assim como os povos que as produziram: os chamados povos sambaquieiros, que habitaram a costa de uma parte do território em que hoje vivemos – de uma forma que adivinhamos ter sido mais harmoniosa e perene que a atual. Deixaram como vestígios inúmeros sambaquis (nomeação de origem tupi que significa literalmente “monte de conchas”) que marcam a paisagem e guardam, sob as areias, fragmentos e matérias acumulados ao longo de milhares de anos. Deixaram também essas esculturas, que os arqueólogos interpretam como elementos de alguma sorte de rituais e que nos assombram pela síntese formal, pela inventividade dos volumes e pela beleza simples que aprendemos a enxergar com a arte dos princípios do século XX e também com as curvas abauladas da natureza (o ovo, o seixo rolado, a duna de areia, o ventre grávido).
Tais “brasileiros de antes do Brasil” merecem estar em nossa história da cultura e da arte, seja por sua flagrante atenção pela natureza e pelo que os rodeava, seja pela qualidade única e enigmática de suas esculturas. É neste mistério profundamente enraizado na terra e no território que este Panorama vai se envolver. É isso que compartilhamos com os convidados Berna Reale, Cao Guimarães, Cildo Meireles, Erika Verzutti, Miguel Rio Branco e Pitágoras Lopes – artistas de gerações diferentes, vindos de regiões várias e identificados com pesquisas artísticas contrastantes entre si, que foram instados a produzir novos trabalhos que refletissem o Brasil de hoje, quiçá inspirados no de ontem, no que ele tem de inapreensível enquanto conceito, assim como telúrico enquanto presença.
Trata-se de proposições artísticas fortes, pregnantes, dissonantes até. Cada artista constrói uma ambiência com suas obras, sejam elas vídeos, esculturas, fotos, pinturas, instalações ou projetos. Paralelamente, as esculturas pré-históricas apresentam-se com doses igualmente surpreendentes de coesão e variedade. Tempos e espaços chocam-se, enquanto especificidades locais, e tendências globalizantes se confundem. É um enigma de origens e, ao mesmo tempo, de impacto perante o estado da visualidade de nossos dias. Mas, por que não também uma outra forma de ver o panorama da arte brasileira?
Aracy Amaral
Curadora
Paulo Miyada
Curador adjunto
prof. André Prous
Consultoria especial
Artistas: Berna Reale | Cao Guimarães | Cildo Meireles | Erika Verzutti | Miguel Rio Branco | Pitágoras Lopes
Performance, vídeo e poesia são os meios mais explorados por Luísa Nóbrega. A artista nascida em São Paulo e graduada em filosofia dedica-se a desenvolver trabalhos que envolvem uma vivência radical. Ela optou por não ter domicílio fixo e morar na casa de amigos ou nos espaços que lhe forem oferecidos por algum programa de residência artística, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo.
Luísa Nóbrega ocupa o corredor de ligação do MAM com a audioinstalação dias úteis. A obra é fruto da edição de arquivos de áudio que a artista gravou ao longo de cinco dias, cada qual passado dentro de uma linha do metrô paulistano, da hora da abertura à do encerramento das atividades.
Camadas de sons se sobrepõem, tendo como fundo o ruído contínuo do deslizar do trem sobre os trilhos. Na massa sonora da cidade, que as pessoas parecem não ouvir, Luísa Nóbrega colhe momentos de poesia que surpreendem o público do Projeto Parede.