Até quando dura a vida? Estas obras de Laura Vinci mostram o ciclo da perda das folhas pelas árvores, em esculturas de metal. O revestimento brilhante das peças refletirá a mudança de luz, conforme a primavera for se tornando verão no parque Ibirapuera; à noite, uma iluminação artificial projeta sombras sobre a parede de fundo, criando um desenho permanente que contrasta com a variação diurna. Ao brilharem dessa maneira, as folhas parecerão sobreviver a seu desprendimento do galho, como se mantivessem em suspensão o estado de decomposição anunciado por sua queda. O uso do banho de ouro transforma esse momento efêmero da vegetação numa relíquia, como se criasse uma lembrança preciosa para as gerações futuras que enfrentarão enormes desafios perante as transformações da natureza. Assim, o MAM apresenta uma nova ocasião de refletir sobre arte-ecologia durante a visita do público ao Ibirapuera, principal parque de nossa cidade.
Felipe Chaimovich
Curador
Esta instalação é composta pelo registro de postes, em diversas posições, observados contra um céu neutro que os reduz a um simples traço-desenho.
A tradução do título é dobra sobre dobra, e a obra evoca a peça homônima do compositor e maestro francês Pierre Boulez, composta entre 1957 e 1962 para soprano e orquestra.
A sonoridade da peça sugeriu a Vicente de Mello uma sequência fotográfica que dialoga com o movimento de notas musicais sobre uma partitura, um grande móbile que se dobra sobre sua dobra, mudando o sentido e a ordem, uma desconstrução visual com a própria música que ressoa no ambiente do MAM, criando uma insólita e errática interpretação de modulação e ritmo, como de breves flashes marcantes sobre um filme velado.
Pli Selon Pli foi criada em 2008, na residência artística Open Projects, em Varsóvia. Sua primeira versão foi apresentada no Projeto Parede/MAM, em 2010, e, em seguida, na Cidade das Artes, em 2016, em impressão lambe-lambe. Em 2017, a proposta de desdobrou em um painel de azulejo de 65 m², comissionado pelo Sesc 24 de Maio. Esta proposição retorna ao Projeto Parede, em 2019, em uma apresentação distinta: agora as imagens dos postes se amalgamaram à textura da parede por uma fina película, destituindo a presença do papel, criando uma única superfície imagética.
Felipe Chaimovich
Curador
Os livros de artista floresceram nos últimos cinquenta anos. Embora certos livros já tivessem sido impressos com a colaboração de artistas, desde o século XVIII, a busca por formatos alternativos de obra de arte incentivou o uso do livro para multiplicar exemplares de uma produção que buscava circular por fora de instituições consagradas, como museus e galerias. Assim, um número crescente de artistas passou a criar obras tecnicamente estruturadas como um livro, mas que desafiavam nossas expectativas sobre tal objeto.
Nas décadas de 1960 e 70, os livros de artista utilizaram a escrita impressa e o desenho gráfico como ferramentas para veicular obras de arte mais próximas da teoria. Tratava-se de uma estratégia para gerar reflexão no público, chamando atenção para temas políticos, como a própria indústria de comunicação de massa, da qual as gráficas que imprimem livros fazem parte.
A partir dos anos 1980, houve um interesse crescente pela materialidade do livro. Além das propriedades dos papéis, as tintas e encadernações tornaram-se matéria-prima para experiências diversas com carimbos, colagens e diversos expedientes técnicos que singularizavam a produção do livro de artista. Logo, cada peça poderia ser única, aproximando-se novamente da obra de arte original. Desde então, os artistas têm transitado entre livros mais conceituais ou mais plásticos.
O experimentalismo do livro de artista foi identificado pelas bibliotecas de arte, antes mesmo de os museus prestarem atenção a tal inovação. Foi assim que a Biblioteca do mam formou uma coleção de livros, que agora trazemos ao público. Reunimos aqui livros de artista que não foram produto de editoras comerciais, enfatizando o trabalho singular de certas tiragens. O pioneirismo da Biblioteca do mam fomentou também importantes doações, levando à constituição de uma das coleções mais relevantes de livros de artista do país.
Felipe Chaimovich
Curador
Glossário
Livro: coleção de folhas em branco e/ou que portam imagens, usualmente fixadas juntas por uma das bordas e refiladas nas outras para formar uma única sucessão de folhas uniformes.
Livro de arte: livro em que a arte ou o/a artista é o assunto.
Livro de artista: livro em que um/uma artista é o/a autor/autora.
Arte do livro: arte que emprega a forma do livro.
Livro-obra: obra de arte dependente da estrutura de um livro.
Livro-objeto: objeto de arte que alude à forma de um livro.
(Classificação da Sociedade de Bibliotecas de Arte da América do Norte, de 1982, em Paulo Silveira. A página violada. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2008, 2ª ed., p. 47.)
Detalhe da obra de Paulo Bruscky, 3X4 Show. Foto: Karina Bacci
Nascido em Fortaleza no dia 26 de maio de 1922, Antonio Bandeira logrou trilhar um caminho incomum no âmbito da arte brasileira. Artista independente em meio às influências locais de seu tempo – mesmo que extremamente ativo em seu ambiente social – não foi em busca dos regionalismos estilísticos e geográficos que por vezes alimentaram artistas de sua geração. Permaneceu à margem de escolas e estilos, jamais emprestando seu nome às declarações de fé estética tão em voga naquele momento.
Exigente e metódico, definido por seus pares como artista sério, lacônico e de uma “casmurrice monacal”, trabalhou diligentemente durante toda a vida, legando-nos uma produção surpreendente não só pela qualidade e sensibilidade, mas também pelo volume. Para além disso, dedicou especial atenção à sua própria persona, ao alimentar mitos e narrativas acerca de sua biografia e cultivar sua imagem, criando assim um personagem que muitas vezes suscitou tanto interesse quanto sua obra.
Traços, cores, tramas, manchas e respingos aparentemente abstratos efetivamente estampam, nas palavras do artista, “paisagens, marinhas, árvores, portos marítimos, cidades, enfim, apontamentos de viagem. Parto do realismo e, depois, vou aparando a ramaria até chegar ao ponto que minha sensibilidade exige. […] A natureza foi e será, sempre, o meu celeiro”. Esse compromisso alegre com a vida pautou sua aproximação e assimilação da linguagem internacional da arte abstrata. Como resumiria Ferreira Gullar, Bandeira “valeu-se das possibilidades da nova linguagem para expressar sua relação amorosa com a realidade que vivia e a realidade que vivera”.
A presente mostra reúne um conjunto de cerca de 70 obras – telas, guaches e aquarelas –, abarcando diferentes momentos de sua produção artística, das primeiras pinturas figurativas às grandes telas de densas tramas e gotejamentos dos últimos anos, e tem sua gênese na mostra Antonio Bandeira: um abstracionista amigo da vida, realizada no Espaço Cultural Unifor, Fortaleza, de agosto a dezembro de 2017.
Regina Teixeira de Barros e Giancarlo Hannud
Curadores
Serviço:
Antonio Bandeira
Abertura: terça-feira, 10 de dezembro de 2019, às 20h
Visitação: 11 de dezembro de 2019 a 01 de março de 2020
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo
Endereço: Parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Horários: terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h)
Telefone: (11) 5085-1300
Ingresso: R$ 10,00. Gratuidade aos sábados. Meia-entrada para estudantes e professores, mediante identificação.
Gratuidade para menores de 10 e maiores de 60 anos, pessoas com deficiência, sócios e alunos do MAM, funcionários das empresas parceiras e museus, membros do ICOM, AICA e ABCA com identificação, agentes ambientais, da CET, GCM, PM, Metrô e funcionários da linha amarela do Metrô, CPTM, Polícia Civil, cobradores e motoristas de ônibus, motoristas de ônibus fretados, funcionários da SPTuris, vendedores ambulantes do Parque Ibirapuera, frentistas e taxistas com identificação e até 4 acompanhantes.
Agendamento gratuito de visitas em grupo pelo tel. 5085-1313 e e-mail
educativo@mam.org.br
atendimento@mam.org.br
www.mam.org.br
@MAMoficial
Estacionamento no local (Zona Azul: R$ 5,00 por 2h)
Acesso para pessoas com deficiência
Restaurante / café
Ar condicionado
Informações para a imprensa
a4&holofote comunicação
Neila Carvalho
neilacarvalho@a4eholofote.com.br
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Ane Tavares
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Antonio Bandeira, Sem título, 1957, Óleo sobre tela, 92,0 x 92,0 cm, Coleção Orandi Momesso, São Paulo. IAB-1112 / apoio Instituto Antonio Bandeira
Fernando Lemos emigrou de Portugal para o Brasil em 1953, fixando-se em São Paulo. Ao chegar, já era fotógrafo e ilustrador gráfico. Assim, passou a colaborar com o jornal O Estado de São Paulo, produzindo imagens que acompanhavam peças literárias.
Reunimos aqui desenhos originais do artista que ilustraram poemas e contos impressos naquele jornal, na década de 1950. Em cada peça, há menção às obras literárias e a seus autores. Os traços geométricos utilizados eram sinal de modernidade, pois a arte abstrata acabara de chegar ao Brasil, e o MAM foi uma das instituições responsáveis por sua promoção. Assim, é possível revisitar um período de nossa cultura em que as artes gráficas e a literatura mantiveram uma relação criativa e potente.
Felipe Chaimovich
Curador
A sede do MAM está temporariamente fechada em virtude da reforma da marquise do Parque Ibirapuera.
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