36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão

36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão

17 ago 19 – 17 nov 19
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Sertão é palavra de origem desconhecida. Na língua portuguesa, há registros de sua existência desde o século XV. Quando aqui aportaram, os colonizadores já trouxeram consigo o termo, usando-o para designar o território vasto e interior, que não podia ser percebido da costa. Desde então, a esse vocábulo atribuem-se diversos sentidos, sem nunca ser fixado numa ideia pacificada. É constituído, inclusive, por oposições: pode referir-se à floresta e ao descampado, ao lugar deserto e também ao povoado, àquilo que é próximo e ermo. Qualifica o visível e o desconhecido, trata da aridez e da fertilidade, do inculto e do cultivado.

Ainda que tenha chegado ao Brasil na caravela, sertão não cessa de se insurgir contra o colonialismo e de escapar de seus desígnios. Mantém sua potência de invenção, não se rende aos monopólios dos saberes patriarcais, exige novos pactos sociais, desierarquiza sua relação com a natureza, reverencia o mistério, festeja. Sertão é, antes e depois de tudo, experimentação e resistência, qualidades fundamentais para viver a arte e que nos trazem a este 36º Panorama da Arte Brasileira.

No Brasil que pleiteava sua modernização, no início do século XX, sertão passou a referir-se, sobretudo, à região do Nordeste de clima semiárido, ilustrada por sua vegetação de caatinga, em oposição ao litoral. Nesse momento, reforça-se o projeto de um lugar seco, primitivo, rude, propagandeando um outro na iminência do flagelo. Forja-se, dessa maneira, uma condição de submissão que justificaria políticas assistencialistas, mas sobretudo a atualização de medidas de exploração. Suas imagens estão presentes por toda a cultura brasileira, ainda que nenhuma delas dê conta de tudo o que pode significar.

Contrariando determinismos, e sob a luz de uma certa produção de arte do Brasil, Sertão é modo de pensar e de agir. Termo evocativo, traz consigo afetos transformadores, formas políticas, ideais de criação, memórias de luta, rituais de cura, ficções de futuro. Esta arte-sertão que aqui se apresenta está no deslizar das linguagens. Mais que um lugar, essa condição sertão é a travessia. Espalha-se Brasil afora, está no manejo do roçado, supera-se na viela da favela, desce pelo leito do rio, está escrita nos muros da cidade e presente na terra retomada. Manifesta-se nos encontros e nos conflitos.

No 36º Panorama da Arte Brasileira, 29 artistas e coletivos reúnem-se para compartilhar estratégias de resistência e modelos de experimentação, a partir de suas histórias. Se sertão está no limite do que se pode apreender, por definição, a ideia de panorama é complementar na forma de sua contradição. A importância de juntar essas instâncias e acolher essas oposições, no entanto, se dá pela necessidade cada dia mais atual de defender existências não hegemônicas e de compartilhar outros modos de vida. Enquanto a arte puder afirmar sua condição sertão, vai ter sempre luta, vai haver sempre a diferença, vai existir sempre o novo.

Júlia Rebouças
Curadora

50 anos de Panorama

O Panorama da Arte Brasileira teve sua primeira edição em 1969 e foi idealizado como forma de o museu recompor seu acervo e voltar a participar ativamente do circuito artístico contemporâneo. A princípio evento anual, o Panorama passou a ser realizado a cada dois anos a partir de 1995, contando até o momento 35 edições.

Parcerias

O 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão procurou ampliar seu tempo e espaço de atuação por meio de parcerias estratégicas: com a Festa Literária Internacional de Paraty, serão promovidas duas mesas de debate convidando um participante da Flip e um participante do Panorama, com a mediação de Júlia Rebouças e Fernanda Diamant, curadora da 17ª edição da Flip; com o Auditório Ibirapuera, vizinho do museu, foi organizada uma programação musical a partir dos conceitos trabalhados no Panorama para o dia 18/08, dia seguinte à abertura no MAM; e, com a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, novos debates acontecerão em setembro e outubro, promovendo o encontro entre artistas, psicanalistas e o público.

Irmãos Campana na loja mam

O estúdio Campana, dos irmãos Fernando e Humberto Campana, que celebra em 2019 seus 35 anos de trabalho, ficará a cargo da curadoria da loja mam durante o período do Panorama, com o patrocínio do Iguatemi São Paulo. O trabalho dos Campana incorpora a ideia da transformação, reinvenção e integração entre o artesanato e a produção em massa, oferecendo um design com identidade própria, mixando a individualidade dos materiais à preciosidade das características comuns no cotidiano brasileiro, como as cores, as misturas, o caos criativo. A partir do olhar único dos irmãos Campana, que contam com um extenso trabalho de pesquisa da cultura vernacular nordestina presente em suas coleções, os visitantes poderão vivenciar um novo espaço da loja mam e encontrar peças cuidadosamente selecionadas que trabalham com o conceito expandido de sertão.

AMA: levando água potável ao semiárido brasileiro

Colocar o sertão em foco possibilitou que o 36º Panorama da Arte Brasileira firmasse parcerias com propósitos que vão muito além do simples apoio financeiro. Um dos patrocinadores, a Água AMA, água mineral da Cervejaria Ambev, tem 100% de seu lucro revertido para projetos de acesso à água potável no semiárido brasileiro. A mostra é uma oportunidade para que o público conheça um produto que, aos poucos, está ajudando a transformar a realidade de muitos brasileiros vivendo no semiárido – clima presente em regiões comumente associadas ao tradicional imaginário de sertão. Já são mais de 26 mil pessoas beneficiadas pelos projetos que AMA financia, em todos os nove estados que compõem o semiárido no Brasil. Este ano, a marca atingiu R$ 4 milhões de lucro, recurso integralmente revertido para iniciativas de acesso à água potável. Iniciativas como o patrocínio ao Panorama da Arte Brasileira permitirão um crescimento ainda maior desses números.

Apoio ao Panorama e ao público de fora de São Paulo

A agência de viagens Flytour, além de ter se tornado agência apoiadora do Panorama, habilitou para o MAM um portal em que os interessados em adquirir passagens e pacotes de hospedagem para viajar a São Paulo e conferir pessoalmente o 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão contarão com descontos especiais.



artistas
Ana Lira
(Caruaru (PE), 1977 - Vive no Recife)
Ana Pi
(Belo Horizonte (MG), 1986)
Ana Vaz
(Brasília (DF), 1986 - Vive em Lisboa)
Antonio Obá
(Ceilândia (DF), 1983 - Vive em Brasília)
Coletivo Fulni-ô de Cinema
(Águas Belas – PE)
Cristiano Lenhardt
(Itaara (RS), 1975 - Vive entre Recife e São Lourenço da Mata – PE)
Dalton Paula
(Brasília (DF), 1982 - Vive em Goiânia)
Daniel Albuquerque
(Rio de Janeiro (RJ), 1983 - Vive no Rio de Janeiro)
Desali
(Belo Horizonte (MG), 1983 - Vive em Contagem - MG)
Gabi Bresola e Mariana Berta
(Joaçaba (SC), 1992 e Peritiba (SC), 1990 - Vivem em Florianópolis)
Gê Viana
(Santa Luzia (MG), 1986 - Vive em São Luís )
Gervane de Paula
(Cuiabá (MT), 1961 - Vive em Cuiabá )
Lise Lobato
(Belém (PA), 1963 - Vive em Belém)
Luciana Magno
(Belém (PA), 1987 - Vive em Belém)
Mabe Bethônico
(Belo Horizonte (MG), 1966 - Vive entre Genebra e Belo Horizonte)
Mariana de Matos
(Governador Valadares (MG), 1987 - Vive no Recife)
Maxim Malhado
(Ibicaraí (BA), 1967 - Vive em Massarandupió - BA)
Maxwell Alexandre
(Rio de Janeiro (RJ), 1990 - Vive no Rio de Janeiro)
Michel Zózimo
(Santa Maria (RS), 1977 - Vive em Porto Alegre)
Paul Setúbal
(Aparecida de Goiânia (GO), 1987 - Vive em São Paulo)
Rádio Yandê
(Rio de Janeiro (RJ), 2013)
Randolpho Lamonier
(Contagem (MG), 1988 - Vive em Belo Horizonte)
Raphael Escobar
(São Paulo (SP), 1987 - Vive em São Paulo)
Raquel Versieux
(Belo Horizonte (MG), 1984 - Vive no Crato-CE)
Regina Parra
(São Paulo (SP), 1984 - Vive em São Paulo)
Rosa Luz
(Gama (DF), 1995 - Vive em São Paulo)
Santídio Pereira
(Isaías Coelho (PI), 1996)
Vânia Medeiros
(Salvador (BA), 1984 - Vive em São Paulo)
Vulcanica PokaRopa
(Presidente Bernardes (SP), 1993 - Vive em Florianópolis)
serviço

36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão

Local:
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Ingresso:

Gratuidade para menores de 10 e maiores de 60 anos, pessoas com deficiência, sócios e alunos do MAM, funcionários das empresas parceiras e museus, membros do ICOM, AICA e ABCA com identificação, agentes ambientais, da CET, GCM, PM, Metrô e funcionários da linha amarela do Metrô, CPTM, Polícia Civil, cobradores e motoristas de ônibus, motoristas de ônibus fretados, funcionários da SPTuris, vendedores ambulantes do Parque Ibirapuera, frentistas e taxistas com identificação e até 4 acompanhantes.