Em muitos momentos da história, a arte moderna brasileira foi atravessada por relações diretas com o exterior, em contextos decisivos para o seu reconhecimento e consolidação nacional. Basta retomarmos as exposições que marcaram seu suposto início: a mostra, em 1914, do lituano-brasileiro Lasar Segall, que fundou o grupo secessionista de Dresden, na Alemanha; a exposição de Anita Malfatti, em 1917, após anos de estudos e treinamento em Berlim e Nova York; e a Semana de Arte Moderna de 1922, que incluiu imigrantes como o suíço-brasileiro John Graz e os ítalo-brasileiros Victor Brecheret e Zina Aita. E devemos considerar, também, a intensa articulação e interação entre os mais modernos centros urbanos da Europa e dos Estados Unidos e os artistas, críticos e demais agentes do modernismo brasileiro, que deram origem a instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM São Paulo) e a movimentos artísticos, como o Manifesto Antropófago e o construtivismo.
Na década de 1940, após o fim da Segunda Guerra Mundial, Ciccillo Matarazzo, fundador do MAM São Paulo, formou uma expressiva coleção com vários dos maiores nomes das vanguardas modernistas, através de viagens, contatos e ampla circulação, tanto na Europa quanto na América do Norte. Para a fundação do museu, Matarazzo – sobrinho e herdeiro de um imigrante italiano, magnata industrial de São Paulo – contou com a colaboração direta de Nelson Rockefeller, que, como presidente do Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York, firmou acordos entre as duas instituições e doou, em 1946, quatorze obras a Matarazzo, como gesto embrionário para a criação de um museu de arte moderna no Brasil. O MAM São Paulo foi fundado dois anos depois, com essa doação incorporada àquela primeira coleção, que testemunhou e reuniu grandes obras de um período que ainda repercute na história da arte moderna brasileira. As primeiras seis edições da Bienal de São Paulo, realizadas pelo MAM, não apenas possibilitaram, no Brasil, a presença de importantes nomes da arte moderna internacional – como Pablo Picasso, Wassily Kandinsky e Alexander Calder –, como também promoveram o encontro do público local com essas produções crescentemente globais, que incluíam, ainda, as representações nacionais que ali se inseriam.
A partir desses encontros, ao longo dos anos 1950 e 1960, foi cultivado aqui um ambiente artístico de grande efervescência, que, assim como nas décadas de 1920, 30 e 40, colocou a produção local em relação a questões do exterior do país, mas em uma dinâmica de mútua relevância global. Diferentemente daquelas décadas iniciais – quando artistas e críticos buscavam encontrar formas e imagens próprias da identidade brasileira, afirmando-a como única –, os encontros instaurados pelas Bienais deslocaram essa preocupação para uma renovação da produção nacional atenta às últimas realizações da arte internacional, sem a pretensão de se afirmar como diferente, mas, sim, de integrar o palco global de circulação artística, que se consolidou definitivamente nas últimas décadas do século 20.
No campo da arte contemporânea e da crítica cultural, a tensão entre o “aqui” e o “lá” remete à migração, ao deslocamento, e à dificuldade de estar em dois lugares ao mesmo tempo – fisicamente em um país e culturalmente em outro. Parte dos artistas que integram a exposição que registramos aqui viveu ou vive essa contradição. Mais do que isso, muitos participam de uma identidade híbrida, que engloba tradições culturais distintas, de outros territórios físicos e simbólicos. As obras presentes na mostra, em sua maioria produzidas no final do século 20, evocam espaços que surgem a partir de uma série de trocas e contatos, menos devido a migrações e deslocamentos forçados, e mais por causa de viagens, residências artísticas e deslocamentos espontâneos.
Se, até a década de 1950, artistas brasileiros iam para a Europa ou os Estados Unidos em busca de atualização estética e novas referências, outros chegavam no Brasil fugindo de guerras. Na segunda metade do século 20, os deslocamentos para o exterior se deram de modo mais igualitário, a partir de uma compreensão do mundo mais descentralizada, quando a arte brasileira já tinha se constituído de modo mais independente e olhava menos para fora. Isso não significa que a categoria de arte latino-americana deixou de ser vista como inferior nos grandes mercados globais; mas, ao menos dos anos 1990 para cá, a produção artística contemporânea, ao mesmo tempo que reconhece seu enraizamento, seus vínculos territoriais e culturais, não é produzida de modo isolado. Ou seja, é possível estar aqui e lá – participar da cena artística internacional sem ignorar fatores históricos e geográficos nacionais e sem se submeter ao mundo hegemônico.
Referências a artistas e culturas de outras nações ou grupos aparecem no interior de obras contemporâneas, mas isso não enfraquece o lugar de fala e a afirmação de identidades locais, como nas obras de Emmanuel Nassar e Lourival Cuquinha, que marcam, de modos diferentes, presenças expressivas na exposição. Enquanto Nassar aborda a singularidade das bandeiras das cidades de seu estado natal – instalando-as sobre as paredes do espaço expositivo como manifesto de identidades que, apesar de brasileiras, podem ser desconhecidas para o público paulista –, Cuquinha apresenta retratos de vendedores ambulantes de São Paulo que compartilham um dado comum em suas vidas: são imigrantes, falam outras línguas, e sua condição informal aponta para o fator negativo primordial de qualquer migração – a impossibilidade de permanecer onde naturalmente se pertence.
Não é por acaso que essas duas obras orientam os núcleos da exposição: elas constituem uma espécie de pano de fundo para os espaços expositivos. Se, na primeira sala, a instalação de Cuquinha envolve trabalhos em que estão incorporadas reflexões sobre imigração, diáspora, deslocamentos físicos e simbólicos, para dentro ou para fora, na segunda sala, a obra de Nassar circunda outras que se relacionam com a afirmação de identidades e a tensão entre corpos.
O que é perceptível na exposição e na coleção do MAM é que a pluralidade tem sido valorizada na arte, assim como as diferenças e os entre-lugares, o que faz com que muitas obras resistam à diluição ao integrarem o circuito nacional e internacional. O “aqui-lá” trata também da relação entre o eu e o outro, ou seja, da alteridade. Um eu só existe em relação a um outro, e esse outro não pode ser a negação do eu, mas ao contrário, é o que permite que o eu seja constituído, é quem lhe dá sentido por vias relacionais. Em vez de uma identidade fixa e essencialista, o eu é, acima de tudo, uma relação, um encontro com o outro que jamais poderia ser reduzido a um mero objeto.
A noção de alteridade exige uma constante transformação das ideias que fazemos de nós mesmos, já que é no contato com o outro, na convivência com outras culturas, que nossas identidades se constituem. Isso quer dizer que, inevitavelmente, há uma cumplicidade entre o eu e o outro na medida em que a alteridade invade as fronteiras do eu, do corpo e do espaço que habitamos. Para os outros, o meu eu também é outro; meu sotaque, que para mim soa natural, é compreendido pelo outro como uma característica regional ou nacional que não é a dele. A arte contemporânea produzida no Brasil nas últimas décadas talvez tenha um sotaque que não é evidente, ou, melhor, uma multiplicidade de sotaques que a faz rica e permite dialogar com outros de igual para igual. Os artistas presentes na mostra participam de uma rede em constante movimento, que se constrói justamente a partir do estar aqui com os ecos do lá, e vice-versa.
As obras de Aqui-lá podem ser compreendidas como o ponto de encontro, o cruzamento, na medida em que a arte torna possível a intersubjetividade. A arte é o campo onde se dão as interseções do eu com o outro, lugar das relações entre aqui e lá. Afinal, o movimento e o deslocamento são parte da história humana. No entanto, nos últimos tempos, com os avanços da extrema-direita no mundo, as dificuldades de deslocamento físico aumentaram devido às políticas anti-imigração, sancionadas principalmente pelos países hegemônicos. Tudo se passa como se o distanciamento físico fosse a norma, numa era em que videochamadas e redes sociais nos vendem uma ideia de proximidade e encurtamento de distâncias que não se realiza completamente.
Cauê Alves e Gabriela Gotoda
Acessibilidade
Disponibilização de catálogos em versão digital que pode ser processada por sistemas de leitura e ampliação de tela (clique aqui para acessar as publicações);
Recursos de audioguia com audiodescrição e videoguia em Libras com legendas em português nas exposições;
Ferramenta de Libras digital;
Utilização de legendas descritivas e texto alternativo nas postagens nas redes sociais, com a hashtag #DescriçãoDoVideo e hashtag #PraTodoMundoVer;
Disponibilização de materiais táteis e multissensoriais das obras do acervo
Além das medidas acima, é possível agendar com o Educativo visitas mediadas gratuitas com educadores para público surdo, com deficiência visual, com deficiência física, intelectual e usuários de equipamentos de saúde mental e emsituação de vulnerabilidade social e horários alternativos planejados para atendimento de público dentro do Transtorno do Espectro Autista de acordo com as características distintas de cada sujeito pensadas em relação a: socialização, sensorialidade, comunicabilidade e autonomia. solicitar pelo e-mail educativo@mam.org.br.
Intérprete de libras e audiodescrição ao vivo nas atividades quando solicitado com até 48h de antecedência solicitar pelo e-mail educativo@mam.org.br.
Em certas atividades, poderão ser oferecidas medidas adicionais de acessibilidade, que estarão indicadas nos materiais de divulgação.
mídias assistivas
Dzi Croquettes
Lourival Cuquinha
Emanuel Nassar
Aqui—lá: MAM São Paulo encontra Instituto Tomie Ohtake (Libras – Texto Curatorial)
curadoria
Ana Roman
Ana Roman vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Mestre em Geografia pela FFLCH-USP, pós-graduada em Estudos Brasileiros pela FESP-SP e doutoranda pela FAU-USP, atuou como curadora, assistente de curadoria e pesquisadora em diversas exposições em importantes instituições culturais brasileiras, incluindo Rever Augusto de Campos (2016), Entre Construção e Apropriação: Antonio Dias, Geraldo de Barros e Rubens Gerchman nos Anos 1960 (2018), A Noite – Mariana Castillo Deball (2022), Ensaios para o Museu das Origens (2023) e Corpo-casa: diálogos entre Carolee Schneemann, Diego Bianchi e Márcia Falcão (2024), entre outras. Foi curadora assistente da 34ª Bienal de São Paulo (2021), membro do Comitê de Indicação do Prêmio PIPA em 2022 e 2024 e curadora do Pivô entre 2022 e 2023. Atualmente, é coordenadora de conteúdo do grupo de pesquisa Academia de Curadoria, colaboradora regular da plataforma Piscina e superintendente artística do Instituto Tomie Ohtake.
Cauê Alves
É mestre e doutor em filosofia pela FFLCH USP. É professor do Departamento de Artes da FAFICLA, PUC-SP, e curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo. É autor de diversos textos sobre arte, entre eles, texto no catálogo da exposição Mira Schendel, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, e Pinacoteca de São Paulo e Tate Modern, Londres. É líder do grupo de pesquisa em História da Arte, Crítica e Curadoria da PUC-SP (CNPq). Entre 2016 e 2020, foi curador-chefe do Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, MuBE. Em 2015, foi curador assistente do Pavilhão Brasileiro da 56ª Bienal de Veneza e, em 2011, foi curador adjunto da 8ª Bienal do Mercosul (2011).
Gabriela Gotoda
(São Paulo, 1998)
Gabriela Gotoda é pesquisadora e curadora de artes visuais. Bacharel em Arte: História, Crítica e Curadoria pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, publicou textos biográficos sobre Edgar Degas (MASP, 2021), John Graz (Pinacoteca de São Paulo, 2021) e Ozias (Danielian, 2024) e atua com curadoria e processos editoriais em instituições de arte e galerias em São Paulo desde 2019. Integra a equipe curatorial do Museu de Arte Moderna de São Paulo desde 2022, onde é responsável pelo acompanhamento curatorial das publicações do museu e da curadoria das exposições “Lina Bo Bardi e o MAM no Parque” (2023), “Clube de colecionadores MAM São Paulo: Técnicas de diversão na arte contemporânea” (2024), e “MAM São Paulo: Encontros entre o moderno e o contemporâneo” (2025)
Paulo Miyada
Curador e pesquisador de arte contemporânea, dedica-se a projetos que contribuam tanto com visadas mais amplas e precisas da história da arte quanto com a reflexão crítica e desejante do tempo presente. Comprometido com o diálogo com artistas, preza igualmente pelo amadurecimento das instituições como instâncias de relevância pública e social, assim como pelo acolhimento dos públicos como sujeitos sensíveis e pensantes com interesses que transbordam o juízo de valor. Com graduação e mestrado pela FAU-USP, atua hoje como diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake e curador adjunto do Centre Pompidou. Foi curador adjunto da 34ª Bienal de São Paulo (2020-21) e assistente de curadoria da 29ª Bienal de São Paulo (2010), além de ter organizado o livro “Bienal de São Paulo desde 1951” (2022). Entre suas curadorias, destacam-se “AI-5 50 anos – Ainda não terminou de acabar” (2018); “Anna Maria Maiolino – PSSSIIIUUU…” (2022); “Ensaios para o Museu das Origens” (2023); “Mira Schendel – Esperar que a palavra se forme” (2024) e “Sonia Gomes – Barroco, mesmo” (2025). Suas publicações foram indicadas diversas vezes para o prêmio Jabuti, incluindo a premiação na categoria Livro de Arte em 2020. Atualmente organiza a mostra “A TERRA O FOGO A ÁGUA E OS VENTOS – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant”.
artistas
Anna Bella Geiger
(Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1933)
Anna Bella Geiger nasceu no Rio de Janeiro, RJ, Brasil (1933). Formada em Língua e Literatura Anglo-Germânicas pela UFRJ. Sua obra articula suportes como colagem, gravura, instalação e vídeo. A artista foi uma das pioneiras da abstração no Brasil e, a partir dos anos 1970, passou a desenvolver uma produção marcada pelo uso de mapas, diagramas e imagens para investigar como discursos geográficos constroem identidades, territórios, centros e margens, revelando relações de poder e dominação cultural. Destacam-se suas exposições panorâmicas recentes Aqui é o centro, no MAM-Rio (2019), e Brasil nativo/Brasil alienígena, no MASP (2020). Participou de coletivas como Verboamérica, no MALBA, Argentina (2017), a 16ª Bienal de Istambul, na Turquia (2019), e Pop Brasil, na Pinacoteca de São Paulo (2025).
Carla Zaccagnini
(Buenos Aires, Argentina, 1973)
Carla Zaccagnini nasceu em Buenos Aires, Argentina (1973). Atua como artista visual, curadora e escritora. Formou-se em Artes Plásticas pela FAAP (1995) e realizou um mestrado em Poéticas Visuais na ECA-USP (2004). Sua obra aborda temas como crítica institucional, deslocamento cultural, iconoclasia simbólica, linguagem e memória, com uso e recontextualização de arquivos, documentos e narrativas históricas. Trabalha com desenho, instalação, texto e vídeo. Realizou as individuais Reação em cadeia com efeito variável no MUSAC, León, Espanha (2010), e Elementos de beleza: um jogo de chá nunca é apenas um jogo de chá, no MASP (2019). Participou da 28ª e 34ª Bienal de São Paulo — nesta última como curadora convidada.
Emmanuel Nassar
(Capanema (PA), 1949 – )
Emmanuel Nassar nasceu em Capanema, PA, Brasil (1949). Graduado em Arquitetura pela UFPA (1974), formação que, segundo o artista, se desdobrou em um forte senso de espacialidade pictórica para seu trabalho. A partir do repertório visual paraense, rearticula símbolos como bandeiras, mapas e logomarcas populares, tensionando com humor e crítica os limites entre a arte erudita e a cultura de massa. Suas obras combinam cores vibrantes, estruturas geométricas e materiais do cotidiano em suportes como escultura, instalação e pintura. Destacam-se suas mostras individuais EN: 81–18 na Estação Pinacoteca (2018) e Lataria espacial no MAM São Paulo (2024). Representou o Brasil na 45ª Bienal de Veneza (1993), participou da 20ª e 24ª Bienal de São Paulo (1989, 1998) e de diversas edições do Panorama da Arte Brasileira (1980,1989,1993).
Hudinilson Júnior
(São Paulo, SP, Brasil, 1957 – 2013)
Hudinilson Júnior nasceu e faleceu em São Paulo, SP, Brasil (1957–2013). Formado em Artes Plásticas pela FAAP (1977), foi pioneiro no uso da xerox como suporte artístico no Brasil. Seu trabalho, profundamente marcado por essa técnica, articula temas como autorrepresentação, homoerotismo e crítica institucional. Fundou o coletivo 3NÓS3 (1979-1982), que é conhecido por suas ações transgressoras no espaço público durante a ditadura militar. Atuou na Pinacoteca de São Paulo como arte-educador e curador, além de coordenar o Centro de Xerografia (1975–1981). Na mesma instituição, teve sua grande exposição retrospectiva e panorâmica Explícito (2020). Também participou da 16ª e 18ª Bienais de São Paulo (1981, 1985), da 3ª Bienal do Mercosul (2001), e dos Panoramas da Arte Brasileira (1980, 1984).
Ivens Machado
(Florianópolis, SC, Brasil, 1942 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2015)
Ivens Machado nasceu em Florianópolis, SC, Brasil (1942), e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, Brasil (2015). Iniciou sua trajetória com obras em papel e vídeos experimentais nos anos 1970, marcados por temas como sexualidade, violência e poder. A partir da década seguinte, voltou-se à escultura e à instalação. Passou a utilizar materiais da construção civil como concreto, cacos de vidro e vergalhões para criar formas brutas e ambíguas, inspiradas na arquitetura vernacular brasileira e nas tensões do corpo humano, desde a agressividade até o erotismo. Destacam-se suas retrospectivas Ivens Machado, no Musée d’Art Contemporain de Nîmes, França (2025), e Ivens Machado, no Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil. Também participou das 12ª, 13ª, 16ª e 22ª Bienais de São Paulo (1973, 1975, 1981, 1994).
Foto: Rodrigo Trevisan/Divulgação
Judith Lauand
(Pontal, SP, Brasil, 1922 – São Paulo, SP, Brasil, 2022)
Judith Lauand nasceu em Pontal, SP, Brasil (1922) e faleceu em São Paulo, SP, Brasil (2022). Formada pela prestigiada Escola de Belas Artes de Araraquara (1950), foi a única mulher a integrar o Grupo Ruptura, ponto de partida do concretismo no Brasil. Sua produção combinou rigor geométrico, contrastes cromáticos e precisão formal em suportes como pintura, colagem, gravura e bordado. A partir dos anos 1960, incorporou palavras e materiais como tachinhas, clips e alfinetes às telas, e passou a abordar temas como liberdade sexual e repressão política. Dentre suas exposições, destaca-se sua grande retrospectiva Desvio Concreto, organizada pelo MASP (2022), e a participação em mostras coletivas como o 1º Panorama da Arte Brasileira, em 1969, e diversas edições da Bienal de São Paulo entre os anos de 1950 e 1960.
León Ferrari
(Buenos Aires, Argentina, 1920 – 2013)
León Ferrari nasceu e faleceu em Buenos Aires, Argentina (1920-2013). Formou-se engenheiro elétrico pela Universidade de Buenos Aires (1947). Sua produção é centrada na crítica incisiva ao imperialismo ocidental, à Igreja Católica e aos regimes autoritários, especialmente à ditadura militar argentina. Exilou-se no Brasil em 1976, após o desaparecimento de seu filho, quando produziu intensamente sobre o abuso de poder do Estado por meio de suportes como arte postal, colagem, escultura, heliografias e pintura. Entre exposições individuais recentes destacam-se Nós não sabíamos, na Pinacoteca de São Paulo (2020), e Entre ditaduras, no MASP (2021). Teve seu trabalho justaposto ao de Mira Schendel na exposição Tangled Alphabets no MoMA, Nova York (2009), com itinerância na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre (2010). Venceu o Leão de Ouro na Bienal de Veneza (2007).
Foto: ARTE!Brasileiros
Lívio Abramo
(Araraquara, SP, Brasil, 1903 – Assunção, Paraguai, 1992)
Lívio Abramo nasceu em Araraquara, SP, Brasil (1903) e faleceu em Assunção, Paraguai (1992). Estudou desenho com o pintor Enrico Vio, e iniciou-se na gravura em 1926, tornando-se um dos principais nomes da xilogravura moderna no Brasil. Sindicalista e militante de esquerda, incorporou à sua obra uma forte temática social e política. Em 1962, radicou-se no Paraguai como membro da Missão Cultural Brasil–Paraguai, onde fundou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico, promovendo a preservação da memória paraguaia e o desenvolvimento da arte gráfica local. Teve retrospectivas como Lívio: mestre da gravura brasileira, no Instituto Tomie Ohtake (2007), e Gravado, no Museu Paranaense (2019), além de participar de diversas edições da Bienal de São Paulo, entre as décadas de 1950 e 1990.
Foto: instituto Livio Abramo
Lothar Charoux
(Viena, Áustria, 1912 – São Paulo, SP, Brasil, 1987)
Radicado no Brasil desde 1928, estudou no Liceu de Artes e Ofícios, onde também lecionou desenho. Após uma fase inicial voltada a retratos e paisagens, passou a explorar questões abstratas e co-fundou, em 1952, o Grupo Ruptura, referência do concretismo no país. Sua produção é marcada por linhas, luz e ritmo visual, com destaque para suas experiências que unem profundidade óptica à estruturas geométricas. Fundou a Associação de Artes Visuais Novas Tendências (1963) e foi tema de retrospectivas no MAM São Paulo e MAM Rio (1974). Participou de diversas edições do Panorama da Arte Brasileira, entre a década de 1970 e 1980, e das primeiras novas edições da Bienal de São Paulo.
Lourival Cuquinha
(Recife, PE, Brasil, 1975)
Lourival Cuquinha nasceu em Recife, PE, Brasil (1978). Desenvolve uma prática crítica voltada à investigação das liberdades individuais e das estruturas de controle social, econômico e institucional. Sua obra atravessa suportes como ações participativas, instalação, intervenção urbana e performance, frequentemente tensionando as formas de relação e circulação na sociedade. Destacam-se suas exposições individuaisTerritórios e capitais: extinções, no MAM Rio (2014) e Transição de fase, na Funarte Minas Gerais (2018). Também participou de coletivas como À Nordeste, no Sesc 24 de Maio (2019), Histórias brasileiras, no MASP (2022), e o 31º e o 35º Panorama da Arte Brasileira (2011, 2017).
Lydia Okumura
(Oswaldo Cruz, SP, Brasil, 1948)
Lydia Okumura nasceu em Osvaldo Cruz, SP, Brasil (1948). Formada em Artes Plásticas pela FAAP (1973), radicou-se em Nova York no ano seguinte, onde estudou no Pratt Graphics Center e no Creative Artists Public Service Program. Desde os anos 1970, investiga a percepção espacial por meio da abstração geométrica e da materialidade, criando composições engenhosas com fios, tinta acrílica e materiais industriais que sugerem tridimensionalidade em diálogo com a arquitetura expositiva. Sua obra articula pintura, instalação e escultura com rigor conceitual e formal. Participou de diversas edições da Bienal de São Paulo ao longo da década de 1970, e integra coleções de instituições internacionais prestigiadas, como o MAM São Paulo, o MoMA e o Metropolitan Museum of Art, ambos em Nova York, Estados Unidos, e Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha
Madalena Schwartz
(Budapeste, Hungria, 1921 – São Paulo, SP, Brasil, 1993)
Madalena Schwartz nasceu em Budapeste, Hungria (1921), e faleceu em São Paulo, SP, Brasil (1993). Iniciou-se na fotografia aos 45 anos, no Foto Cine Clube Bandeirante, e destacou-se por seus retratos em preto e branco, nos quais explorou com sensibilidade e apuro técnico a expressividade dos rostos retratados. Atuou ativamente na cena cultural e queer de São Paulo nos anos 1970 por meio de seu estúdio improvisado no edifício Copan, onde fotografou artistas, intelectuais e figuras andróginas e transformistas, como o cantor Ney Matogrosso e o grupo de dança underground Dzi Croquettes. Destaca-se sua grande retrospectiva As metamorfoses (2021), organizada pelo Instituto Moreira Salles, São Paulo, e itnerada para o MALBA, na Argentina, e o Museo Nacional de Arte, na Bolívia.
Foto: Pedro Luis Szigeti
Maureen Bisilliat
(Englefield Green, Reino Unido, 1931)
Maureen Bisilliat nasceu em Englefield Green, Inglaterra (1931). Formou-se em pintura em Paris e Nova York antes de se radicar no Brasil, em 1957, onde construiu uma carreira como fotógrafa, cineasta e pesquisadora. Interessou-se em fotografar o interior do país, produzindo ensaios visuais a partir de autores literários como Euclides da Cunha, Guimarães Rosa e Mário de Andrade. Em suas inúmeras viagens pelo Brasil, registrou manifestações populares e o universo indígena com um olhar poético e narrativo. Dirigiu o documentário Xingu/Terra (1982) e foi responsável pela curadoria e formação do acervo de arte popular latino-americana do Pavilhão da Criatividade, no Memorial da América Latina. Dentre suas exposições individuais, destacam-se Presente do Futuro, no MIS, São Paulo (2023) e Agora ou nunca (2021), no Instituto Moreira Salles, São Paulo. Teve uma sala especial dedicada ao seu trabalho na 18ª Bienal de São Paulo (1985).
Megumi Yuasa
(São Paulo, SP, Brasil, 1938)
Megumi Yuasa nasceu em São Paulo, SP, Brasil (1938), onde vive e trabalha. Escultor e ceramista autodidata, iniciou sua produção em 1964 e desenvolveu uma obra marcada pela experimentação material, texturas orgânicas e observação rigorosa da matéria. Filho de imigrantes japoneses, é profundamente influenciado pela estética do wabi-sabi, integrando metais, tintas e outros materiais às cerâmicas, em peças de superfícies rústicas, tonalidades terrosas e gestualidade controlada. Atua como professor desde 1979, construindo diversos espaços de formação, como o laboratório de cerâmica no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), em Porto Alegre. Participou da 13ª e da 14ª Bienal de São Paulo (1975, 1977), além de diversas mostras panorâmicas de cerâmica e arte nipo-brasileira. Suas obras integram os acervos do MAM São Paulo, MAC USP e Pinacoteca de São Paulo.
Nazareth Pacheco
(São Paulo, SP, Brasil, 1961)
Nazareth Pacheco nasceu em São Paulo, SP, Brasil (1961). Formou-se em Artes Plásticas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e iniciou sua trajetória nos anos 1980, trabalhando com escultura e tridimensionalidade. Sua obra reflete experiências autobiográficas e investiga a relação entre corpo, dor e padrões estéticos, por meio de materiais como borracha, aço, bisturi, miçangas e acrílico. Realizou exposições individuais como Objetos Sedutores, no SESC Santo Amaro (2012) e Gota a Gota, na Pinacoteca de São Paulo (2015). Participou de coletivas como a 20ª e 24ª Bienal de São Paulo (1989, 1998) e o Panorama da Arte Brasileira (1988, 1991, 1998, 1999).
Paulo Bruscky
(Recife, PE, Brasil, 1949)
Paulo Bruscky nasceu em Recife, PE, Brasil (1949). Cursou Comunicação Social na Unicap, formação que se desdobrou em uma prática artística voltada para a circulação de mensagens e os meios de reprodução e difusão da informação. É um dos principais nomes da arte conceitual e da arte postal no Brasil, com atuação em linguagens e suportes diversos, como fotografia, performance, poesia visual, vídeo e xerografia. Sua obra investiga os limites entre arte, linguagem e tecnologia, utilizando recursos como carimbos, fax, e filmes em Super-8 para explorar os vínculos entre corpo, máquina e discurso. Destacam-se suas individuais Art is our Last Hope, no Bronx Museum (2013), e Paulo Bruscky, no MAM São Paulo (2014). Também participou da 57ª Bienal de Veneza (2017), e de diversas edições da Bienal de São Paulo (1981,1989, 2004, 2010) e do Panorama da Arte Brasileira (1984, 2002, 2005).
Rafael França
(Porto Alegre, RS, Brasil, 1957 – Chicago, EUA, 1991)
Rafael França nasceu em Porto Alegre, RS, Brasil (1957), e faleceu em Chicago, Estados Unidos (1991). Cursou Artes Plásticas na ECA-USP, onde iniciou experimentações com gravura e xerografia. Em 1982, transferiu-se para os EUA para cursar um mestrado em vídeo na School of the Art Institute of Chicago. Atuou em linguagens como videoarte, instalação e fotografia, com forte interesse na relação entre corpo, imagem, tempo e reprodução técnica. Trabalhou com narrativas atravessadas por questões subjetivas e políticas, como a homossexualidade e sua vivência com HIV. Foi cofundador do grupo 3NÓS3, voltado à intervenção no espaço urbano. Dentre suas exposições individuais, destacam-se Polígonos regulares, na Pinacoteca de São Paulo (2011), e Entre mídias, no MAC USP (2014). Participou também das coletivasUnited by AIDS, no Migros Museum, Zurique, Suíça (2019), e Histórias da sexualidade, no MASP (2018).
serviço
Exposição:
Aqui — lá: MAM São Paulo encontra Instituto Tomie Ohtake
Local:
Instituto Tomie Ohtake
Curadoria:
Ana Roman, Cauê Alves, Gabriela Gotoda e Paulo Miyada
Período expositivo:
de 3 de setembro a 2 de novembro de 2025
Endereço:
Rua Dos Coropés, 88 – Pinheiros – São Paulo – SP
Entrada gratuita
galeria de imagens
museu de arte moderna de são paulo
A sede do MAM está temporariamente fechada em virtude da reforma da marquise do Parque Ibirapuera.