O Museu de Arte Moderna de São Paulo foi fundado em 1948 e sua coleção, com ênfase na arte brasileira, conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos artistas modernos e contemporâneos. Assim como o seu acervo, a programação do MAM privilegia o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística atual e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas. Tradicionalmente, o museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, debates, laboratório de pesquisa, sessões de vídeo e práticas artísticas e educativas.
Em 1986, o MAM criou o Clube de Colecionadores que tem entre os seus objetivos o enriquecimento do seu acervo e o desenvolvimento do colecionismo privado. Através do Clube, artistas em diferentes estágios de carreira são convidados a propor trabalhos em formato múltiplo, para a realização de uma tiragem limitada de edições, das quais ao menos uma é incorporada ao acervo do MAM. Em 2024, o museu iniciou uma revisão na sua coleção e doou para a Pinacoteca do Ceará um conjunto de 87 obras que participaram de diferentes edições do Clube de Colecionadores do MAM e que estavam duplicadas na coleção.
MAM na Pinacoteca do Ceará: figura e paisagem, palavra e imagem é uma mostra que parte desta doação e conta com 47 obras que pertencem à coleção do MAM e são vinculadas à arte moderna e contemporânea. Ao aproximar a coleção do MAM das obras recém adquiridas pela Pinacoteca, a exposição reúne 94 trabalhos de diferentes linguagens e procedimentos técnicos, como fotografia, xilogravura, serigrafia, pintura, desenho, escultura, bordado, vídeo, entre as mais variadas combinações e derivações. Esse contingente de materialidades e fazeres artísticos variados reflete a multidisciplinaridade que caracteriza a arte brasileira e, assim, busca oferecer ao visitante a pluralidade como via para refletir e se relacionar com a arte e questões inerentes a ela.
A relação entre figura e paisagem é abordada no primeiro núcleo da exposição, onde foram reunidos trabalhos que elaboram diferentes pontos de vista sobre uma questão cara à história da arte e às transformações promovidas desde as vanguardas modernistas. Em algumas das obras, a presença de figuras em frente ou em meio a paisagens, ou diante de espaços vazios, nos desafia a refletir sobre como os corpos e os retratos se vinculam com o espaço e o mundo ao seu redor, e o quanto as fronteiras entre os sujeitos e a paisagem natural e artificial podem ser indeterminadas. Em outros trabalhos, a aparição de paisagens desprovidas de figuras, assim como representações ambíguas do corpo e dos espaços que ele ocupa, ou pode ocupar, desestabilizam sentidos cristalizados ao introduzir a abstração no processo de percepção e significação do mundo e dos modos como nos relacionamos.
Os vínculos entre palavra e imagem são análogos às relações entre figura e paisagem e entram em foco no núcleo final da exposição, onde trabalhos que contêm letras, palavras e textos colocam em perspectiva a apreensão da linguagem escrita no contexto de uma construção imagética. Toda palavra produz sentido através de uma imagem mental, assim como algumas imagens podem ser compreendidas a partir de sua ligação com a escrita e como linguagem visual. Nas obras reunidas na exposição, essas relações são reconfiguradas à medida em que palavras e letras ao lado de outros elementos compositivos contaminam-se mutuamente, apontando para a impossibilidade de separação total entre a leitura da imagem e a leitura da palavra.
A presente exposição é fruto de uma parceria entre o MAM São Paulo e a Pinacoteca do Ceará e almeja, além de aumentar a visibilidade da coleção de ambos os museus, contribuir para a programação da Pinacoteca do Ceará, assim como fomentar a reflexão sobre arte moderna e contemporânea.
Cauê Alves e Gabriela Gotoda
curadores