Contam os mais velhos do povo Makuxi que, nos tempos antigos, Surarî’ foi abandonado no mato por um caçador. Ao sentir saudades dele, Surarî’ virou gente e decidiu subir aos céus atrás de seu dono. Para isso, pediu ajuda a um pequeno gavião que o levou nas costas. Quando chegou lá, Surarî’ se transformou novamente, ganhando corpo de estrela. Tornou-se responsável por trazer as chuvas e lembrar que, depois do tempo da seca, haverá ainda um outro tempo possível, o das águas.
Surarî’ é a palavra na língua makuxi que designa o moquém, jirau usado para desidratar e defumar carne. A técnica de moquear, uma forma de conservar o alimento e facilitar o seu transporte dos locais de caça e pesca até as aldeias, é boa para pensar o trânsito de provimentos e de saberes que atravessam não só diferentes espaços, mas também diferentes mundos. São trânsitos como estes que constituem os movimentos da arte indígena contemporânea. A chuva provocada por Surarî’ é uma maneira de conceber os fazeres dos artistas indígenas como veículo entre distintas temporalidades e um modo de produzir e atualizar relações.
Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea apresenta trabalhos de 34 artistas indígenas que corporificam transformações, traduções visuais de suas cosmologias e narrativas, presentificando a profundidade temporal que fundamenta suas práticas. As obras atestam que o tempo da arte indígena contemporânea não é refém do passado. A ancestralidade é mobilizada no agora, reconfigurando posições enunciativas e relações de poder para produzir outras formas de encontro entre mundos não fundamentadas nos extrativismos coloniais.
Jaider Esbell curador Paula Berbert assistente de curadoria Pedro de Niemeyer Cesarino consultor
A exposição é uma correalização entre MAM e Fundação Bienal de São Paulo e integra a rede de parcerias da 34ª Bienal.
Programação
Além da exposição na sede do MAM, a mostra contará com uma série de depoimentos inéditos em vídeo de sete artistas de Roraima, que serão divulgados ao longo do período expositivo nos canais digitais do museu, como também ampla programação educativa, que contará com oficinas e lives com os artistas sobre assuntos como arte e xamanismo, povos indígenas e a história da arte no Brasil e a força das mulheres indígenas nas artes.
Catálogo
Próximo do encerramento da exposição, será lançado um catálogo que reúne textos críticos e ensaios de artistas.
Lista completa de artistas
Ailton Krenak | Amazoner Arawak | Antonio Brasil Marubo | Arissana Pataxó | Armando Mariano Marubo | Bartô | Bernaldina José Pedro | Bu’ú Kennedy | Carlos Papá | Carmézia Emiliano | Charles Gabriel | Daiara Tukano | Dalzira Xakriabá | Davi Kopenawa | Denilson Baniwa | Diogo Lima | Elisclésio Makuxi | Fanor Xirixana | Gustavo Caboco | Isael Maxakali | Isaiais Miliano | Jaider Esbell | Joseca Yanomami | Luiz Matheus | MAHKU | Mario Flores Taurepang | Nei Leite Xakriabá | Paulino Joaquim Marubo | Rita Sales Huni Kuin | Rivaldo Tapyrapé | Sueli Maxakali | Vernon Foster | Yaka Huni Kuin | Yermollay Caripoune
Jaider Esbell
Artista multimídia e curador independente do povo Macuxi. A cosmovisão de seu povo e a vida cotidiana nas Amazônias compõem a poética de seu trabalho que se desdobra em desenhos, pinturas, vídeos, performances, textos e proposições curatoriais. Definindo seus fazeres como artivismo, as pesquisas de Esbell combinam discussões interseccionais entre arte, ancestralidade, espiritualidade, história, memória, política e ecologia. Tem destaque suas elaborações sobre o txaísmo – modo de tecer relações de afinidades afetivas nos circuitos interculturais das artes pautadas pelo protagonismo indígena. Realiza práticas de arte-educação em comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e urbanas periféricas, atuando especialmente em articulações junto a artistas indígenas da região circumroraimense a partir de sua galeria de arte indígena contemporânea na cidade de Boa Vista – RR. Desde 2010 tem circulado por diversas exposições no Brasil e no exterior. Em 2016 ganhou o Prêmio Pipa categoria online. Em 2020 participou de Véxoa: nós sabemos, mostra coletiva de arte indígena na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 2021 foi curador de sua própria exposição individual Apresentação : Ruku, na Galeria Millan em São Paulo. É artista convidado da 34ª Bienal de São Paulo e curador do projeto Moquém_Surarî, exposição de arte indígena contemporânea, atualmente em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
imagens
Vista da exposição "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", na sala Milú Villela do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foto: Karina Bacci
Vista da exposição "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", na sala Milú Villela do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foto: Karina Bacci
Vista da exposição "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", na sala Milú Villela do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foto: Karina Bacci
Vista da exposição "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", na sala Milú Villela do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foto: Karina Bacci
mídias assistivas
1 - Apresentação da Exposição Moquem-Surari
02:13
2 - Descrição do Espaço Expositivo
01:18
3 - Sem Titulo - Charles Gabriel
01:27
4 - Série Magutxi Pataxo Pegando Ouriço - Arissana Pataxo
01:22
5 - Maldita e Desejada - Jaider Esbell
01:40
6 - O Xamã de Jaider Esbell - Davi Kopenawa e Fanor Xirixana
01:10
7 - Ye pa Mahsun Kun Na ã Tuo narã de Bu u - Kennedy
01:51
8 - Série Anna Senkamanto Anna Komanto - Nosso Trabalho Nossa Vida - Elisclesio Makuxi
01:37
9 - Wenne Tipoias de Bernaldina - José Pedro
00:55
10 - Conjunto de Ceramicas de Dalzira e Nei - Xakriaba
01:02
11 - Uma Vaca Para um Indio - Barto
01:22
12 - Serie Transmakunaimi - O Buraco É Mais em Baixo A Luta Da Vaca Com Makunaimi - Jaider Esbell
02:14
13 - Kumurô Daidara - Tukano
01:18
14 - Festa na Floresta - Ailton Krenak
01:28
serviço
Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea
Curadoria:
Jaider Esbell
Assistência de curadoria:
Paula Berbert
Consultoria:
Pedro Cesarino
Período expositivo:
4 de setembro a 28 de novembro
Endereço:
Parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portões 1 e 3)
Horários:
terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Local:
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Curadoria:
Jaider Esbell
Telefone:
(11) 5085-1300
Ingresso:
Entrada gratuita, com contribuição sugerida. Agendamento prévio necessário.
galeria de imagens
Vista da exposição "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", na sala Milú Villela do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foto: Karina Bacci
Vista da exposição "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", na sala Milú Villela do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foto: Karina Bacci
Vista da exposição "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", na sala Milú Villela do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foto: Karina Bacci
Vista da exposição "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea", na sala Milú Villela do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foto: Karina Bacci