A exposição celebra um século de nascimento do paisagista Roberto Burle Marx. Este evento é particularmente importante, pois São Paulo foi o berço natal de Burle Marx e o parque do Ibirapuera, embora apenas parcialmente executado, um de seus projetos mais relevantes.
Pintor, desenhista, gravador, escultor, ceramista, cenógrafo, músico, joalheiro e, claro, paisagista, Burle Marx era um artista “total”. Nesse versátil humanista prevaleciam, porém, o pintor e o paisagista. A condição de pintor ajudou-o a transplantar formas da vanguarda artística para os jardins, aplicando na natureza princípios do cubismo e do abstracionismo. Pôde, assim, dar aos jardins uma estética singular e moderna.
O primeiro segmento da exposição abriga a obra plástica de Burle Marx. O conjunto dos trabalhos oferece uma oportunidade única de conhecer uma produção eclipsada pelo retumbante sucesso de Burle Marx como paisagista. As obras evidenciam o grande artista plástico que ele também foi.
O segundo setor é dedicado à obra paisagística. Na definição de Roberto, fazer paisagismo é criar a permanência do instável, vencendo o desafio de obter uma composição perene a partir de elementos instáveis com diferentes ciclos de vida. Para Burle Marx, o jardim planejado deve estabelecer com a paisagem relações de harmonia ou de contraste, ao criar um ambiente bucólico, lúdico ou de refúgio. Concebendo os jardins como microclimas, Burle Marx executou centenas de projetos públicos e residenciais que podem ser vistos nesta seção.
A última sala apresenta retratos a óleo de sua família, uma série de desenhos eróticos e outra da agonia do escritor Lúcio Cardoso, inéditas até esta mostra; fotos do sítio em Guaratiba, Rio de Janeiro, onde morou desde 1972 e cultivou as inúmeras espécies de plantas colhidas em suas expedições. Além de seu potente legado artístico, Roberto Burle Marx, pioneiro na luta por uma política de ecologia e profundo conhecedor de botânica, é uma permanente inspiração na luta pela inserção de uma agenda que inclua a qualidade do meio ambiente no processo de desenvolvimento do Brasil.
Lauro Cavalcanti
Curador