Zona da Mata corresponde geograficamente à faixa litorânea da região nordeste do Brasil, paralela ao Oceano Atlântico, que se estende do Rio Grande do Norte até a Bahia. Trecho da Mata Atlântica original, hoje quase extinta na região, foi solo fértil explorado de modo predatório. Porta de entrada para a colonização, é historicamente um território de conflito, instaurado no modo de invasão e ocupação, matriz de destituição dos povos originários e da diáspora afro no país.
Essa exposição adota o termo Zona da Mata como metáfora simbólica, não apenas no sentido da geografia física, no enfrentamento necessário do desafio de tratarmos da violenta constituição de nosso território. Frente à exploração predatória de pessoas e lugares, como restituir dignidade ao que precisamos reconhecer como nossa morada? É incontornável repactuar nossa condição humana na indissociável relação entre cultura e natureza.
Diante do Brasil em febril convulsão, violentamente retrógrado, Zona da Mata é hoje todo o País. Alinhados ao desafio mundial, precisamos mais do que nunca nos reposicionarmos frente ao nosso pacto de país e sociedade, a começar por reconhecer saberes ancestrais que não soubemos acalentar, sem aprisioná-los em um passado histórico, mas como parte fundamental de nosso desejável presente.
A exposição se organiza em quatro partes em diferentes espaços e com distintas temporalidades. Por isso, nunca estamos diante da totalidade da mostra, mas apenas de fragmentos. Ocorre no MAC USP (5o. andar ala B e térreo) durante toda a extensão de tempo e no MAM (na sala de vidro em dois tempos). Usufrui da condição de necessário atravessamento, mais ágil no percurso feito a pé do que motorizado, para articular os dois pontos avizinhados, desconectados a posteriori do projeto de transformação do Ibirapuera em 1954, onde originalmente se encontrava uma mata alagadiça – “mata que já foi mata” em Tupi Guarani. Intenta um ir-e-vir aderente ao chão da cidade, endereçada ao presente e ao porvir, no pacto indissociável de uma paisagem compartilhada e simultaneamente desviada, a partir da singularidade vibrante de cada obra convidada e do acervo de ambas as instituições que integram essa mostra-paisagem.
Ana Magalhães
Cauê Alves
Marta Bogéa
Curadores
Legenda: Rodrigo Bueno (Campinas, SP, 1967). Origem e Destino, 2021. Foto: Karina Bacci.
Curadoria: | Ana Magalhães, Cauê Alves, Marta Bogéa |
Período expositivo: | 26 de outubro a 6 de março |
Local: | Museu de Arte Moderna de São Paulo |
Endereço: | Parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portões 1 e 3) |
Horários: | terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30) |
Telefone: | (11) 5085-1300 |
Ingresso: Entrada gratuita, com contribuição sugerida. Agendamento prévio necessário.