Poucas vezes o título de uma exposição foi tão eloquente: Piero Manzoni. O nome do artista nascido em Cremona e morto em Milão aos 29 anos é sinônimo de uma produção pequena, materialmente simples e intelectualmente refinada. É também sinônimo de humor. Impossível conter o riso diante de uma lata rotulada Merda d’artista (1961).
Esta é a primeira retrospectiva de Piero Manzoni na América Latina. Manzoni se projetou na cena vanguardista europeia dos anos 1950 e 1960, e participou de duas bienais em São Paulo. Sob a curadoria de Paulo Venâncio Filho, obras de todas as séries que ele produziu podem ser vistas na Sala Paulo Figueiredo.
Manzoni viveu pouco, mas seu legado marcou profundamente a arte do século XX. Suas obras põem em xeque conceitos fundamentais das artes visuais e, às vezes, os esvaziam por completo. O resultado é o nada. Um nada que abriu vários caminhos para a arte contemporânea.
Piero Manzoni começou pela pintura. Ou melhor: começou pela redução da pintura a conceitos. Seu primeiro cuidado foi afastar-se da abstração informal, estilo de que dominou a pintura europeia no pós-guerra. Em lugar do drama visual gerado por pinceladas carregadas de tinta, Manzoni preferiu a literalidade da matéria. Ele usa sintéticos, resinas, plásticos, materiais novos em um mundo novo.
Para Manzoni, a matéria é afirmativa, basta por si só. Nada precisa ser dito além de um título que, de tão óbvio, pode ser perturbador. Achrome (1957-63) é pintura feita de qualquer matéria – algodão, cal, miolo de pão –, na qual não se acrescenta cor, conceito essencial ao campo da pintura. Não importa o comprimento: Linea (1960) é exatamente o que é, uma linha, um conceito essencial.
Manzoni partia da matéria para chegar ao conceito, daí a proximidade de sua obra com a de Marcel Duchamp (1887-1968). Manzoni foi o artista mais duchampiano do século XX. Merda d’artista (1961) foi a Fountain (1917) de Manzoni. Assim como o célebre urinol de Duchamp, essas latas de conteúdo indeterminado, rotuladas, numeradas e datadas como um alimento industrializado são uma das obras mais emblemáticas do século XX. “Só uma ação de liberdade absoluta pode realizar Merda d’artista. E coragem, por que não? E o humor está em enfrentar a risibilidade desta ação”, comenta o curador da exposição.
Manzoni não só criou uma obra polêmica, mas também escreveu textos, fundou uma revista e uma galeria, participou de grupos e movimentos. Em seus textos, é possível identificar uma mitologia individual que reitera a imagem do personagem que Manzoni construiu de si mesmo, que autenticava o Uovo (1960) com sua impressão digital, enchia um balão com o ar dos pulmões em Fiato d’artista (1960) ou ainda assinava esculturas vivas em eventos performáticos.
Segundo o curador Paulo Venâncio Filho, Manzoni “soube fazer sua figura de artista, pré-Warhol, indissociável de seu mito. Tanto quanto Andy Warhol, e antes dele, entendeu que a eficácia crítica do papel do artista na sociedade contemporânea estava na autocriação mítica: fazer de si mesmo um mito, mas um mito negativo, contrário ao mito da alienação”.
O visitante do MAM tem agora a oportunidade de desvendar o mito e conhecer o artista.
Onde e quando
Onde: Sala Paulo Figueiredo
Quando: 08/04 a 21/06
Mais informações: http://mam.org.br/exposicao/piero-manzoni/
Você já parou pra pensar em quanto cuidado é necessário para montar uma exposição?
Para responder essa pergunta, acompanhamos a chegada das obras de Piero Manzoni durante a montagem da exposição, em cartaz até 21 de junho.
Grande parte das exposições do MAM recebe obras de fora de sua coleção e às vezes até de fora do país. As obras de arte são objetos únicos e especiais, por isso é necessário muito cuidado ao manuseá-las.
No período de montagem, as equipes do MAM, um courier (pessoa designada para acompanhar as obras em todo o percurso) e uma empresa especializada em manuseio de obras trabalham em todas as etapas: desde a pintura de paredes, projeto expográfico, posicionamento de legendas até a própria instalação de cada obra. A montagem é um processo minucioso e delicado – que leva em média 10 dias para ser finalizado.
Além do transporte das obras, há o cuidado com a conservação. A obra não pode sofrer nenhum dano na sua estadia no museu, tampouco em seu transporte. Para tanto, caixas especiais são confeccionadas respeitando seu tamanho e peso.
Após a abertura das caixas, o courier e a equipe do MAM analisam cada detalhe, como o estado de conservação da obra e do suporte (moldura, base, etc). A partir desse material é desenvolvido um laudo técnico de cada uma das obras para nos certificarmos de que da mesma forma que ela chegou, irá embora ao término da exposição.
Agora que você já sabe um pouco dos bastidores, venha visitar a exposição que é grátis aos domingos!
É o Sócio do MAM que participa de visitas guiadas, conversas com artistas, críticos e curadores, ganha descontos nos cursos regulares do museu e frequenta todos os anos quatro cursos gratuitos concebidos exclusivamente para ele.
Em abril, o sócio da categoria Cultura vai conhecer a fundo o trabalho de Piero Manzoni no curso Do mínimo ao zero, ministrado pela crítica Magnólia Costa.
Ao associar-se ao MAM, você amplia seus conhecimentos e ajuda o museu realizar exposições, manter programas socioeducativos e oferecer o melhor atendimento ao público diverso.
Depoimentos Sócios:
Assim como em uma música a pausa valoriza os acordes, os encontros no MAM são momentos de intensa reflexão em meu cotidiano profissional. (Mirtes Luciani)
A iniciativa de oferecer cursos exclusivos para sócios mostrou-se muito positiva, pois além de promover o enriquecimento cultural e a integração entre os sócios, tornou ainda mais atrativo o programa de sociedade do MAM. (Danilo Dias)
Os cursos exclusivos e todas as atividades oferecidas aos sócios são conduzidas por profissionais de extrema competência e, mais do que isso, são iniciativas que colaboram de forma decisiva para a aproximação às atividades do museu, desmistificando qualquer barreira que possa existir entre o indivíduo e a instituição, sem qualquer prejuízo à qualidade da reflexão proposta. (Milene Cara)
O MAM espera por você. Associe-se!