A Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, a convite do MAM São Paulo, organizou três mesas de debate inspiradas na exposição Ismael Nery: feminino e masculino, com curadoria de Paulo Sergio Duarte.
O curador da exposição descreve o artista como alguém que teve coragem de caminhar sozinho, de descobrir-se e de construir um olhar sincronizado com a arte de seu tempo, mas não com os intelectuais de seu país. Assim, insinua que o artista construiu seu universo pictórico por meio do trabalho de desvelamento – um processo de retirada de camadas e véus que o levou à descoberta de si, ao encontro com o mundo e à sua arte.
Nascido em 1900 Ismael Nery morreu aos 34 anos, de tuberculose. Segundo Duarte, Nery era católico e professava sua fé em discussões filosóficas; na época estava na moda ser materialista e anticlerical, mas ele era um dândi narcisista – a exposição está repleta de autorretratos e autorretratos com a esposa Adalgisa, reconhecida pela beleza e inteligência. Ainda, segundo a apresentação do curador, o pintor era vaidoso e exímio dançarino; poderia se dizer hoje que era um “artista performático”.
A questão de gênero e a sexualidade estão muito presentes em sua ousada produção. São olhares maliciosos, figuras andróginas, relações entre feminino e masculino, corpos fusionados – como se uma ou mais camadas de decoro e civilização tivessem sido retiradas da tela – e a impressão que sempre há algo anterior, primordial, misterioso, de difícil nomeação. Questões dessa mesma natureza sempre estiveram na pauta da Psicanálise. Acreditamos que esta exposição e os debates a seguir nos dão a oportunidade de compartilhar nosso pensamento com o de outras áreas da cultura.
Luciana Saddi – Diretora de Cultura e Comunidade da SBPSP
Visita mediada à exposição Ismael Nery: feminino e masculino pelos educadores do MAM: 20h
Debate no auditório: 20h30
Mesa 1 – quinta-feira, 26 de julho, às 20h30
A cosmogonia de Ismael Nery, com Silvana Rea
A psicanalista vai abordar a poética de Ismael Nery em suas relações com a história da arte e com a psicanálise.
Silvana Rea é graduada em cinema e psicologia, Doutora em Psicologia da Arte pela Universidade de São Paulo, diretora científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
A lei do desejo, com Pedro Paulo Pimenta
Na história da filosofia, há um momento, a segunda metade do século XVIII, em que o desejo sexual passa a representar o desejo enquanto tal. Essa identificação tem como contraparte a atribuição exclusiva do prazer sexual à espécie humana, o que acarreta uma redefinição da ideia de gênero.
Pedro Paulo Pimenta é professor livre-docente de filosofia moderna na USP e autor de A trama da natureza (Unesp, 2018).
Mesa 2 – quinta-feira, 2 de agosto, às 20h30
O sexo e as pessoas ou a desnaturalização do sexual proposta por Freud, com Oswaldo Ferreira Leite Netto
Como psicanalista, o autor tece considerações sobre a sexualidade humana e a impossibilidade de considerá-la em seus aspectos biológicos apenas: masculino e feminino.
Oswaldo Ferreira Leite Netto é psiquiatra e psicanalista da SBPSP, onde coordena o grupo de estudos “Psicanálise e Homossexualidade”, e membro do comitê de identidade de gênero e diversidade da IPA. É diretor do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.
Desenhos da intimidade: a sinceridade do traço secreto, tesouro do artista, com Alex Cerveny
O artista falará sobre o que é próprio do desenho, da intimidade de Ismael Nery com a representação do corpo/mente e a liberdade que este tipo de desenho, “secreto” e informal, proporciona.
Alex Cerveny pertencente à geração de artistas surgida no Brasil nos anos 1980, com formação independente, especializou-se primeiro em desenho e gravura, expandindo depois para outros meios. Desde 2002, é representado pela galeria Casa Triângulo, de São Paulo.
Mesa 3 – quinta-feira, 9 de agosto, às 20h30
Espectros, com Leopold Nosek
Com quantos espectros se faz uma pessoa?
Leopold Nosek é psicanalista da SBPSP. Autor, entre outros trabalhos, do livro “A Disposição para o Assombro” ed. Perspectiva. Em 2014 ganhou o prêmio Mary Sigourney Award.
O poço de contradições, com Paulo Sergio Duarte
Uma obra singular no modernismo brasileiro realizada sobre a base de conflitos entre religião e sexualidade.
Paulo Sergio Duarte, curador da exposição Ismael Nery: feminino e masculino, é crítico, professor de História da Arte e professor-pesquisador do Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESAP) da Universidade Candido Mendes e da Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro (Parque Lage). Dirigiu projetos culturais e educacionais para o governo federal e para os governos estadual e municipal do Rio de Janeiro. Publicou diversos livros sobre arte moderna e contemporânea.
Quintas-feiras
26 de julho, 2 de agosto, 9 de agosto às 20h
Auditório do MAM São Paulo
Parque Ibirapuera, portão 3
Inscrições aqui.