Em 1988, celebrou-se entre nós o centenário da Abolição da Escravidão, e várias iniciativas, de caráter público ou privado, foram promovidas para festejar a efeméride. O mesmo ano via surgir a nova carta magna da República, a Constituição que ampliava ou instituía direitos até então recusados a mulheres, negros, negras e originários. A celebração também deu ensejo a protestos daqueles que, justamente, entendiam ser pífios os avanços do combate às desigualdades de raça, gênero e classe, profunda e historicamente arraigadas na sociedade brasileira.

Nessa ocasião, tanto a exposição A Mão Afro-Brasileira – Significado da contribuição artística e histórica, organizada por Emanoel Araujo e realizada no MAM, quanto a nova Constituição foram resultados da luta obstinada daqueles que entendiam a necessidade de construir uma sociedade que, por ser justa e igualitária, seria também mais comprometida com a democracia.

O lapso de tempo que separa a exposição de 1988 desta, Mãos: 35 anos da Mão Afro-Brasileira, foi repleto de acontecimentos historicamente significativos, que acabaram por confirmar a relevância das instituições culturais do país, pois afirmam, igualmente, a importância central que a educação (formal e não formal) ocupa no combate às mazelas que secularmente nos assombram. Entre elas, o racismo estrutural que, apesar dos avanços que paulatina e lentamente vão sendo feitos, permanece, infelizmente, como característica comum ao cotidiano de milhões de afrodescendentes que são por ele infelicitados.

Entre as importantes conquistas observadas está, justamente, o debate sobre a constituição dos acervos dos nossos museus e sobre como eles espelham, ou não, a diversidade étnica, de gênero e classe da população do país. No momento em que se estabelece o necessário e profícuo debate sobre a relevância e circulação da produção intelectual e artística de minorias secularmente excluídas, convém lembrar a importância pioneira da mostra de 1988.

A exposição Mãos acaba por celebrar a memória de Emanoel Araujo – criador do Museu Afro Brasil, que hoje recebe seu nome –, um polímata que, falecido há um ano, no dia 7 de setembro de 2022, catalisou, a partir da sua pioneira e corajosa atuação, a vontade de todos os que desejam a promoção da cultura afro-diaspórica, por entendê-la parte valiosa e inextrincável de um patrimônio que pertence a toda a humanidade.

Claudinei Roberto da Silva
curador


Artistas

MAM São Paulo (Sala Paulo Figueiredo)
Agnaldo Manuel dos Santos, Aline Bispo, Almandrade, André Ricardo, Arthur Timótheo da Costa, Betto Souza, Claudio Cupertino, Cosme Martins, Denis Moreira, Diogo Nógue, Edival Ramosa, Edu Silva, Emanoel Araujo, Emaye – Natalia Marques, Eneida Sanches, Estevão Roberto da Silva, Flávia Santos, Genilson Soares, Heitor dos Prazeres, João Timótheo da Costa, Jorge dos Anjos, José Adário dos Santos, Leandro Mendes, Luiz 83, Maria Lídia Magliani, Maurino de Araújo, May Agontinmé, Mestre Didi, Néia Martins, Nivaldo Carmo, Otávio Araújo, Paulo Nazareth, Peter de Brito, Rebeca Carapiá, Rommulo Vieira Conceição, Rosana Paulino, Rubem Valentim, Sérgio Adriano H, Sidney Amaral, Sonia Gomes, Taygoara Schiavinoto, Wilson Tibério e Yêdamaria.

MAB Emanoel Araujo (Biblioteca Carolina Maria de Jesus)
Emanoel Araujo, Denis Moreira, May Agontinmé, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa e Renata Felinto.



 
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A trajetória de Claudia Andujar (Suíça, 1931), que fugiu da perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial, revela o modo como conflitos políticos interferem na vida de diversos povos. A artista chegou ao Brasil em 1955, país em que vive até hoje e onde se naturalizou em 1976. Sua vida é marcada pela luta por demarcação de terras Yanomami e por uma série de ensaios fotográficos dedicados aos povos indígenas no Brasil. Claudia Andujar se identifica com a vulnerabilidade do povo Yanomami e nos ensina que o outro é aquele que nos ajuda a entender quem somos.

A série Sonhos Yanomami, de 2002, foi elaborada a partir de seu acervo de imagens, da sobreposição de cromos e negativos realizados desde 1971, ocasião de sua primeira viagem para a bacia do rio Catrimani, em Roraima, território Yanomami homologado pelo governo brasileiro apenas em 1992. Trata-se de uma obra do período maduro da artista, que já possuía grande intimidade com a cultura do povo que a acolheu.

As imagens revelam algo dos rituais dos líderes espirituais Yanomami e a importância do sonho em sua cosmologia. Os xamãs, diferente dos demais, se deslocam durante o sonho na companhia dos espíritos, dos xapiri, que podem trazer conhecimento, cura e proteção para a comunidade. O sonho, longe de ser um fato banal que é esquecido depois de despertarem, é uma conexão profunda com os espíritos, que viajam para além do céu, da terra e do mundo subterrâneo, e voltam com ensinamentos sobre o que viram.

O trabalho de Claudia Andujar se comunica com a cosmologia Yanomami e sua sabedoria ancestral por meio de imagens. Corujas, garças, macacos e retratos de indígenas se mesclam com luzes, texturas de pedras e árvores, resultando em fotografias fantasmagóricas dos sonhos de um povo com uma cultura sofisticada.

No período em que foi revelado ao mundo mais um genocídio contra os Yanomami, cometido entre 2019 e 2022, devido ao incentivo ao garimpo ilegal e ao uso de armas, a mostra adquire um caráter simbólico para dar visibilidade aos valores indígenas. Essa também é uma história de aproximadamente 50 anos: os Yanomami vêm sendo dizimados ao menos desde 1973 com a construção da Rodovia Perimetral Norte (BR-210) e da abertura de dezenas de pistas de pouso de aeronaves.

A sobrevivência dos Yanomami, além de uma questão humanitária, assegura a proteção da floresta, a sustentabilidade ambiental e a vida no planeta. Os xamãs, os únicos que conseguem sonhar mais longe e ouvir as vozes dos espíritos da floresta, impedem a queda do céu, sustentado pelos xapiri, que mantêm o equilíbrio e a ordem do universo. O fim do mundo, o desabamento do céu, ocorrerá quando a floresta for exterminada e o último xamã morrer. O tempo para reverter a grande catástrofe está se esgotando.

Cauê Alves (curador-chefe do MAM São Paulo)



 
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O espaço ocupado por um museu de arte não é como outro qualquer. Especialmente os museus de arte moderna, já que foram em grande parte instalados em edifícios construídos especialmente para eles. Foi justamente através de projetos para esses museus que grandes nomes da arquitetura estabeleceram seus legados. Esse é o caso de Lina Bo Bardi (1914 – 1992), a arquiteta ítalo-brasileira responsável pelo projeto arquitetônico do MASP, do MAM Bahia e do atual edifício do MAM São Paulo, seu último trabalho museográfico.

Mesmo sendo um dos primeiros museus de arte moderna do mundo, o MAM São Paulo nunca teve uma sede construída especialmente para ele, ocupando ao longo de sua história uma série de espaços adaptados. Durante os primeiros anos, foi instalado no edifício dos Diários Associados na Rua Sete de Abril, num espaço projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas. Depois, o MAM ocupou uma parte do Pavilhão Matarazzo, quando a Bienal de São Paulo ainda era um evento do museu. Após um período de reorganização devido à doação do seu acervo à USP em 1963, o MAM retomou suas atividades em 1969 numa nova sede: o edifício sob a marquise do Parque Ibirapuera.

Este espaço integra o conjunto arquitetônico do Parque desde a sua fundação em 1954. Após abrigar o Museu de Cera até, ao menos, o ano seguinte, recebeu a exposição Bahia no Ibirapuera de Lina Bo Bardi e Martim Gonçalves em 1959, e, depois, foi usado por quase uma década como depósito da Bienal. A partir da concessão para uso do edifício atribuída pela prefeitura em 1968, o MAM convidou Giancarlo Palanti para reformar o pavilhão que se tornaria a sede do museu. Mas foi apenas com a reforma projetada por Lina Bo Bardi (com colaboração de André Vainer e Marcelo Ferraz) em 1982 – entregue em 1983 – que o MAM executou a fachada de vidro que transformaria a sua relação com o Parque Ibirapuera.

Em 2023, o MAM identificou um desenho da arquiteta em meio aos documentos guardados pela biblioteca e retomou a pesquisa sobre a reforma realizada por Lina Bo Bardi há quarenta anos. Trata-se de um estudo para um dispositivo expográfico que ela propôs com o projeto da reforma em 1982. Os painéis desse dispositivo seguiriam uma espécie de linha paralela à fachada do museu, enfatizando a continuidade do espaço expositivo. Considerando as limitações que esses painéis fixos trariam para as exposições, a diretoria do museu à época optou por não realizá-los.

Dada a importância deste desenho para o legado da arquiteta e da sua relação com o edifício ocupado pelo MAM, o museu decidiu incorporá-lo ao acervo, junto às demais obras em papel da sua coleção. Na exposição, ele é apresentado com outros materiais referentes à reforma de Lina Bo Bardi no MAM, incluindo estudos em planta, fotos de maquete, e outros documentos que registram o estado anterior e posterior do edifício. Com isso, além de promover a pesquisa em torno da arquitetura de museus e, especialmente, da arte moderna, buscamos compreender melhor o trabalho e a herança deixada por Lina, que, com o êxito da sua marca museográfica, transformou o MAM num espaço contínuo com o Parque Ibirapuera.

Gabriela Gotoda
Pedro Nery
curadoria


Agradecimento especial ao Instituto Bardi / Casa de Vidro e à sua equipe.



 
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apresentação

ativações no jardim

Penca

Marquise

Os bodes adoram brincar

BBB

 
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Desde seu encontro com Ismael Nery, em 1921, até sua morte em 1975, Murilo Mendes foi uma das figuras mais influentes da vida artística brasileira. Foi crítico de arte, colecionador, organizador de exposições, além de poeta. Exerceu papel determinante na formação de toda uma geração de críticos, de Mario Pedrosa a Antônio Bento e Rubens Navarra e foi interlocutor de Mário de Andrade no que diz respeito à arte carioca. Essa importância, no entanto, raramente lhe é reconhecida.

Seu pensamento crítico encontra-se espalhado em jornais e revistas, em muitos poemas e prosas poéticas, entretanto somente no fim da vida Murilo organizou parte de seus textos críticos em um volume publicado postumamente, A invenção do finito. Em 1994, sua coleção de arte foi adquirida pela Universidade Federal de Juiz de Fora, que criou o Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) e desde então organiza mostras e publicações sobre o acervo. Esta exposição teria sido impossível sem o trabalho rigoroso que o MAM vem desenvolvendo há décadas.

A exposição está dividida em três blocos: o primeiro aborda o círculo de Murilo Mendes e Ismael Nery no Rio de Janeiro nas décadas de 1920 e 1930, com alguns desdobramentos na década seguinte. Nessa fase, Murilo apoia um conjunto de artistas como o próprio Nery, Cícero Dias, Alberto da Veiga Guignard e Jorge de Lima, que cultivam uma relação estreita entre artes plásticas e poesia, próximos das poéticas surrealistas e metafísicas, mas com divergências. Por outro lado, opõe-se às tendências dominantes na época, realistas e defensoras de uma volta ao métier, a serviço do nacionalismo e do engajamento social. É a fase “rebelde” de Murilo.

O segundo bloco da exposição abrange de meados da década de 1930 até sua mudança para a Itália em 1957. Mendes já é um poeta famoso e um crítico influente. Seu leque de interesses se amplia: Lasar Segall, Bruno Giorgi, Maria Martins, Alberto Magnelli. Começa a montar uma coleção de arte que reunia várias obras adquiridas em suas viagens à Europa.

De grande importância, nessa fase, é a convivência com artistas que chegaram ao Rio de Janeiro da Europa fugindo do nazismo, em particular com o casal Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes. O círculo que se forma em volta desses artistas inclui Milton Dacosta, Djanira, Ione Saldanha, Almir Mavignier, Carlos Scliar, Fayga Ostrower, entre outros. Murilo passa a se interessar por poéticas abstracionistas, mas não adere ao concretismo.

O terceiro bloco abrange o período em que Murilo viveu em Roma, a partir de 1957, onde leciona literatura brasileira na universidade. Lá aproxima-se do crítico de arte Giulio Carlo Argan, com quem compartilha o interesse por artistas italianos que praticavam um abstracionismo não geométrico, sem aderir de todo ao informalismo. Interessa-se pela arte optical e cinética e colabora com artistas como Alberto Magnelli, Lucio Fontana e Soto em mostras e publicações. Organiza exposições de artistas brasileiros contemporâneos na galeria da Embaixada do Brasil em Roma, incluindo Volpi, Goeldi, Weissmann, Mavignier entre outros. O ápice dessa última fase talvez seja a curadoria da representação brasileira na Bienal de Veneza de 1964, a primeira em que o Brasil conta com seu próprio pavilhão. Com esta exposição espera-se que o espaço reservado a Murilo Mendes crítico de arte e colecionador, tanto na sua biografia como na história da crítica brasileira, se afirme e se expanda.

Lorenzo Mammì
Maria Betânia Amoroso
Taisa Palhares
curadores




 
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permanência a transformação

Eu, Você e a Lua é um trabalho de Tunga inédito no Brasil e está entre as últimas obras realizadas pelo artista que iniciou sua produção na segunda metade dos anos de 1960. Ao longo de sua trajetória, Tunga se interessou pela alquimia, pela psicanálise, pelas ciências e pela filosofia. Ele construiu uma mitologia singular com imagens simbólicas e materiais em que as noções de permanência e transformação são fundamentais. É recorrente em sua obra a ideia de que “o trabalho é um conjunto de trabalhos”.

Mesmo com a profusão de objetos e materiais, em Eu, Você e a Lua há uma forte coerência entre as partes. Alguns elementos são recorrentes no vocabulário poético do artista, como garrafas de cristal, de gesso ou de resina, tanto ocas como sólidas. Espelhos, cristais, pedras, pratos presos em aros e hastes, além de correntes ou alças de couro fixadas em tripés também aparecem em outras obras de Tunga. Ao lado de um tronco petrificado de milhares de anos, o uso desses materiais pode evocar o orgânico e o inorgânico ou o natural e o artificial.

O fóssil de uma árvore que se manteve intacto, como se o tempo estivesse suspenso, convive com uma essência de âmbar, uma fragrância com toques amadeirados que goteja como se uma ampulheta marcasse a passagem do tempo e a transformação da matéria. Recorrendo ao olfato e à visão, os elementos originários e pré-históricos na obra de Tunga se fundem ao contemporâneo e à presença efêmera do perfume.

Fragmentos agigantados de um corpo humano, dedos polegares de bronze patinado apontam para baixo, enquanto espelhos arredondados e prateados como a lua refletem a luz que vem de cima. Escultura de dedos, como se estivessem duplicados, apontam para lados contrários, para o céu e para o solo. Uma delas de pedra, na horizontal, alinhada ao tronco, indica sentidos opostos e apontam para o eu e para o outro. O olhar de dois sujeitos pode atravessar o fóssil e se encontrar num único. Os dois lados já não parecem se opor. Na poética de Tunga, o que está no planeta Terra ou fora dele, o interno e o externo, assim como eu, você e a lua, formam um todo indivisível.

Cauê Alves
(curador-chefe do MAM São Paulo)



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O título da exposição, Realidades e Simulacros, explora a pluralidade que surge como resultado do uso do “s” ao final das palavras e a aparente oposição entre a realidade e a ficção. Durante muito tempo as pessoas acreditaram na existência de uma realidade única, objetiva. Mas o fato é que esta realidade não existe. Existem muitas realidades que se sobrepõem, se complementam, se anulam, se contradizem. Realidades e Simulacros são dimensões de uma mesma experiência.

Olhar para o mundo é como vestir uma lente de linguagem, fazendo com que as coisas apareçam conforme a visão de mundo da pessoa. Existem muitos condicionantes que regulam o alcance e o escopo dessas lentes: culturais, geográficos, políticos, biológicos, sociais, tecnológicos. Geralmente elas são invisíveis, mas a tecnologia contemporânea tem lhes emprestado concretude. Por meio de um avatar, navegando em um ambiente, sobrepondo uma existência digital ao mundo ao redor, é possível vestir as lentes de uma realidade alternativa à realidade percebida apenas por meio dos meus sentidos.

Realidades e Simulacros reúne dez artistas que criaram experiências digitais de diferentes perfis como forma de contribuir para este jogo de multiplicidades. Ver um outro mundo, uma outra cultura, uma outra geografia, uma outra política, uma outra biologia, uma outra sociedade, uma outra tecnologia. Ao explorar a realidade aumentada como uma possibilidade de interferência na paisagem do Ibirapuera, a exposição estimula essa dinâmica. O visitante é então convidado a perceber a realidade ao redor de outra maneira e sobrepor outras camadas de realidade à sua existência.

As obras criadas especialmente para a exposição permitem o contato com diferentes realidades e/ou simulacros. O simulacro também é uma realidade. Uma realidade lúdica. Uma realidade política. Uma realidade fantástica. Uma realidade contraditória. Uma realidade biológica. Uma realidade invisível. Uma realidade decolonial. Um mosaico de existências que se sobrepõe a um ambiente complexo e diverso. Uma experiência de camadas que tornam possíveis novas formas de ver e ouvir.

Cauê Alves
Marcus Bastos
curadores

 
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Fazer junto é uma questão de escolha e princípio. Situações de fazer junto nos desafiam a vivenciar os muitos sentidos de pertencimento e participação, seja pelas noções de convívio, pela cooperação ou colaboração que o trabalho coletivo possibilita. Envolve um conjunto de estratégias, que podem se tornar métodos ou não.

As obras e experiências artísticas e educativas que integram a exposição Elementar: fazer junto fazem parte do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo. A Instituição valoriza a ecologia de saberes que constitui seus acervos de obras de arte e experiências educativas ligadas a diversos repertórios e processos de criação de artistas e não artistas.

Elementar é aquilo que está na natureza das coisas, em sua essência, componente básico do mundo e suas matérias. Artistas lidam direta ou indiretamente com as terras, as águas, os ares e os fogos, elementos naturais que compõem as mais diversas materialidades, poéticas e processos na vida e nas artes.

Tal como elaborou Richard Sennett, trabalhar em cooperação pressupõe disposição e receptividade. A expografia da mostra contempla experiências poéticas e um Espaço de Fazer Junto, além de proposições realizadas com artistas e educadores.

No museu, elementar é “fazer junto”. Também é a possibilidade de instaurar situações e modos de se relacionar com os acervos e os diferentes públicos, em vivências e experiências. Envolve o artístico e os saberes que a arte movimenta, coloca em contato todos que disponibilizam sua atenção, presença e abertura à conexão geradora de sentidos.

Valquíria Prates
Mirela Estelles
Cauê Alves
curadores




 
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Maciej Antani Babinski
Varsóvia, Polônia 1931

O MAM São Paulo apresenta a recente aquisição de mais 20 obras de Maciej Babinski. O artista está entre os grandes de sua geração e o presente conjunto enriquece nosso acervo. Como as gravuras trazem detalhes, narrativas e vários acontecimentos, os públicos que frequentam o MAM têm agora a possibilidade de investigar cada detalhe das obras com o auxílio de lupas disponibilizadas pelo museu.

Babinski nasceu em Varsóvia, Polônia, em 1931. Com a Segunda Guerra Mundial foi para a Inglaterra, depois Canadá, até se fixar no Brasil, em 1965. No Rio de Janeiro, aproximou-se de diversos artistas, entre eles Oswald Goeldi. Foi também professor na Universidade de Brasília e lecionou na Universidade Federal de Uberlândia, MG. Viveu em São Paulo por oito anos, onde frequentou a Escola Brasil. Atualmente vive em Várzea Alegre, no Ceará. Seus deslocamentos e o convívio com manifestações da vanguarda marcam a sua trajetória.

As peças que o MAM acaba de receber são de períodos diversos: há exemplares dos anos de 1950, 1960, 1970 e 1980, além de um significativo conjunto realizado nas duas primeiras décadas do século 21. A mais antiga foi realizada em 1955, momento em que o artista desenvolveu obras abstratas. Sua gravura dos anos de 1960 aborda indiretamente o ambiente de tensão presente durante a ditadura militar. Se em algumas gravuras há traços expressivos, em outras, feitas entre 2009 e 2014, afloram seu imaginário e suas fantasias. Em alguns dos trabalhos das décadas de 1970, de 1980 e de 2010 paisagens naturalistas e formas vegetais são perseguidas pelo artista com traços singulares e autorais. Ao mesmo tempo, figuras humanas, ora mais geometrizadas, ora mais oníricas, aparecem em narrativas em que o animalesco, cenários complexos e personagens inusitados se intercalam.

O conjunto representa a variedade de estilos e técnicas usadas pelo artista, passando pela xilogravura e com ênfase na gravura em metal. Trata-se de uma seleção representativa e generosa, feita pelo próprio Babinski, de sua fecunda obra.

Cauê Alves

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A exposição comemorativa do centenário de nascimento de Arcangelo Ianelli reveste-se de especial emoção por se realizar no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o museu mais estimado pelo artista. Sua primeira exposição individual na instituição aconteceu pelas mãos de Mario Pedrosa, em 1961, e, a partir de 1969, ele participou de seis edições do Panorama de Pintura, sendo premiado em 1973. Em 1978, sua retrospectiva no museu recebeu o prêmio de melhor exposição do ano da ABCA – Associação Brasileira dos Críticos de Arte.

Ianelli foi um artista do fazer, obsessivamente dedicado ao métier, e intransigente quanto ao lugar da pintura. Tendo feito o percurso habitual de sua geração, realizou obras acadêmicas, seguidas por pinturas com acentos cezannianos, que foram se tornando cada vez mais sintéticas até o mergulho na abstração, que o encaminhou, sem volta, em busca da essência.

O partido curatorial adotado nesta retrospectiva foi o de privilegiar a coerência de sua obra, mostrando que, no jovem pintor de 1950, já está contido o artista de 1970; que o mural de 1975 abre caminho para a escultura dos anos 1990 e que, nesse momento, nascem também as grandes pinturas, realizadas até 2000. Para permitir ao visitante a compreensão desse processo, a mostra estabelece um percurso que se inicia com a produção dos anos 1970, retrograda até 1950 e volta traçando o percurso de 1960 a 2000. Assim é possível ver, ao mesmo tempo, todas essas vertentes nascendo umas das outras. A mostra também propõe revelar o processo de criação e execução do artista, trazendo para o público a intimidade de seu ateliê e revelando sua persistência e perfeccionismo.

Uma exposição é um trabalho que envolve muita gente. Meus agradecimentos aos filhos do artista, Katia e Rubens Ianelli; à diretoria do museu; à jovem e eficiente equipe da instituição, liderada por Cauê Alves, e a todos os demais colaboradores. Parte deles, como eu, conheceu pessoalmente o artista, mas, mesmo aqueles que não tiveram essa sorte, entregam ao público esta mostra igualmente encantados.

Salve, Ianelli!

Denise Mattar
Curadora


Minidocumentário: Ianelli 100 anos — o artista essencial | parte 1
Minidocumentário: Ianelli 100 anos — o artista essencial | parte 2



 
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Diálogos com cor e luz é uma exposição voltada para a difusão da coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que apresenta exclusivamente trabalhos desse acervo. Aqui, reunimos um pequeno recorte de obras com ênfase nas relações entre a cor e a luz na arte brasileira da segunda metade do século 20. Vale destacar que, no século passado, o MAM São Paulo desempenhou um papel significativo na introdução e na propagação das tendências abstracionistas no Brasil. Dois exemplos merecem ser citados: a mostra inaugural do museu, Do Figurativismo ao Abstracionismo, realizada em março de 1949 por Léon Degand (1907-1958), e a exposição Ruptura, em dezembro de 1952, que deu início ao movimento concretista na arte brasileira, com a publicação de seu manifesto.

Agrupamos no espaço várias gerações de artistas, sem privilegiar tendências nem estabelecer uma ordem cronológica. Misturamos tempos e linguagens, para incentivar nosso olhar à percepção de semelhanças e diferenças entre as várias poéticas visuais nos diversos tratamentos da luz e da cor. A museografia distribuiu no espaço os painéis radiais, numa referência ao disco de cores – ou seja, ao experimento óptico de Isaac Newton (1643-1727), publicado em 1707 em seu livro Opticks. Nele, o físico inglês demonstra, por meio de um disco de sete cores (vermelho, violeta, azul índigo, azul ciano, verde, amarelo e laranja), sua teoria de que a luz branca do Sol é formada pelos matizes do arco-íris. Ao girarmos o disco com velocidade, as cores se sobrepõem em nossa retina e nos fazem enxergar o branco.

A seleção de obras, ao enfatizar os diálogos com a cor e a luz em diversos suportes, chama atenção para a luz como elemento fundante da percepção. Trabalhar com a luz significa que temos de lidar também com a sombra, a escuridão ou a ausência de luz. E nos interessa justamente o primeiro contato que temos com a cor, anterior às teorizações e aos sentidos que acrescentamos a ela. A cor é indissociável daquilo que ela expressa. Ela mesma já é expressão, não apenas a tradução de uma ideia ou sentido preconcebido.

Fundamental é nos livrarmos dos sentidos já instituídos e sedimentados no campo da cultura, de conceitos anteriores ao vivido, para aí podermos ter a experiência com a duração da cor. Em vez de pensarmos a cor e a luz como elementos idealizados, o contato direto com a arte nos ajuda a restituir o vínculo originário com o mundo. Os diálogos entre luz e cor na arte nos mostram que o mundo pode ser surpreendente e nossa relação com ele, inesgotável.

Fábio Magalhães
Cauê Alves
curadores


Minidocumentário – Diálogos com cor e luz


 
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Oásis poluído

A sala de vidro onde está a instalação Nosso Mundo, de Shirley Paes Leme, estabelece uma relação direta com o entorno do Jardim de Esculturas do MAM, como se fosse um prolongamento do paisagismo de Roberto Burle Marx. De longe, o assoalho espelhado da obra da artista se assemelha a um espelho d’água, um oásis, como se nele houvesse um líquido. Mas ao caminhar sobre as placas reflexivas, o piso ganha consistência.

Os visitantes podem ver de fora ou ficar imersos no interior da instalação, como se o ritmo intenso da cidade estivesse suspenso por alguns instantes, formando um lugar de desaceleração e de contemplação. O chão espelhado em plena marquise do Parque Ibirapuera multiplica o espaço e o corpo de quem caminha sobre ele. Enquanto observamos a obra, o espelho nos reflete. Um duplo invertido do painel da grande parede ao fundo da sala aparece na superfície espelhada.

Shirley Paes Leme elaborou uma composição a partir da paisagem da cidade, com filtros de ar-condicionado de carros já utilizados e manchados pela poluição. O material utilizado nos revela a qualidade do ar que respiramos. É como se cada filtro que representa prédios ou partes do céu tornasse visível a densa atmosfera que nos circunda, tomada por fuligem e substâncias nocivas à saúde.

A artista constrói uma espécie de linha do horizonte a partir do ar denso e da fumaça fixada nos filtros. São essas partículas que encobrem a nossa visão e podem ofuscar nossos sentidos. Além de apontar para questões ambientais cada vez mais urgentes, Shirley Paes Leme reflete e dá visibilidade para a situação paradoxal de estarmos numa espécie de oásis poluído.

Cauê Alves
curador



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Silêncios e direitos

A instalação de Ana Teixeira para o Projeto Parede do MAM São Paulo é fruto de uma pesquisa que a artista realiza desde 2019, a partir da escuta de mais de uma centena de mulheres. Historicamente, a fala das mulheres sempre foi reprimida. É mais comum que mulheres sejam interrompidas, seja em reuniões de trabalho ou mesmo durante o lazer, do que homens. Tudo se passa como se elas não fossem capazes de seguir com seus argumentos. Além de enfrentar a violência física, o trabalho de Ana Teixeira discute a violência verbal contra a mulher.

Depois de fotografar as mulheres entrevistadas, a artista desenhou algumas delas segurando placas com dizeres que reforçam a necessidade de romper com a dominação masculina, para que todos os gêneros sejam tratados de modo respeitoso e igualitário. Ela dá voz às mulheres cis, trans e travestis, lembrando que não é admissível que elas sejam caladas. No fone de ouvido, é possível escutar 101 frases coletadas por Ana Teixeira (clique aqui e leia as frases na íntegra), nas quais a maioria das entrevistadas reafirma a liberdade das mulheres, critica o patriarcado e manifesta seus desejos ao responder à pergunta: O que você não quer mais calar?

Em 2021, Ana Teixeira realizou uma pesquisa no acervo da Biblioteca Mário de Andrade e elaborou a publicação Cala a Boca Já Morreu! (clique aqui para ler), cujas páginas estão também expostas no Projeto Parede. Os livros usados pela artista, pertencentes à Biblioteca Mário de Andrade, estão disponíveis para consulta na biblioteca do MAM.

A obra de Ana Teixeira revela que, no lamentável silenciamento das mulheres, há uma potência de significados que não cabe em uma parede. Em vez de vazios ou ausências, os silêncios, em especial esses que estão se rompendo, são promessas de um futuro com igualdade de direitos, inclusive o direito de fala.



Cauê Alves

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Uma biblioteca particular não é apenas uma coleção de livros, é parte de uma biografia, que reflete os interesses e também as passagens de uma vida, com encontros e desencontros entre autores, outros intelectuais etc. No caso de Aracy Amaral, é também o conjunto de referências que sedimentaram nas prateleiras e espelham o trabalho árduo e fundamental de erudição durante uma vida dedicada aos estudos, à escrita, à crítica e à sensibilidade artística. A doação de Aracy Amaral de uma parte de sua biblioteca pessoal para o Museu de Arte Moderna de São Paulo conduziu a Biblioteca Paulo Mendes de Almeida a orgulhar-se de ser depositária desse legado intelectual e a olhar retrospectivamente para a sua atuação nesse museu.

A presença de Amaral no decorrer da história do MAM é uma constante desde os primeiros anos da instituição, e as trajetórias são quase concomitantes. Recém formada como jornalista, Amaral trabalhou como monitora na II Bienal de São Paulo em 1954 (até 1961 a Bienal de São Paulo era uma atribuição do MAM), e atuou como repórter para jornais do Rio de Janeiro cobrindo a Bienal, bem como a cena artística paulistana. Desde então, sua contribuição somente avançou, participando de dezenas de exposições, dedicando textos e colaborando ativamente na Comissão de Arte (1996 – 2001) e no Conselho Consultivo de Arte (2014 – 2015) do MAM.

Afim de ilustrar essas inúmeras passagens de Amaral junto ao museu, reunimos aqui a sua produção autoral, referenciando exposições pelas quais foi responsável, seja pelo conteúdo crítico, ou pela curadoria – este último é um termo mais comumente utilizado a partir de meados dos anos 1990, e que não daria conta de toda a presença da crítica no MAM –, revelando a perenidade de suas ações culturais no museu.

Optamos por oferecer ao visitante justamente o material mais rico de suas passagens pelo MAM: os catálogos das mostras realizadas por Aracy Amaral que documentam suas atividades e que estão guardadas e disponíveis ao público aqui na Biblioteca. Os catálogos apresentados se subdividem por uma tipologia que serve apenas como instrumento de acesso, entre exposições individuais, exposições coletivas históricas e exposições coletivas contemporâneas. Ao mesmo tempo, é possível conhecer a coleção de livros doada pela crítica na prateleira deslizante que está indicada, onde os livros são mantidos juntos de forma a representar sua biblioteca particular.

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De 20 de abril a 17 de setembro de 2023, a 37ª edição do Panorama de Arte Brasileira: Sob as cinzas, brasa será exibido no Sesc Sorocaba. Com correalização do MAM São Paulo e Sesc São Paulo, a itinerância leva ao interior do estado obras dos 26 artistas, com instalações, pinturas, esculturas e vídeos que conduzem discussões sobre o legado e os símbolos da colonização, o cenário de destruição contínua, a memória diante de efemérides de relevância nacional, e as possibilidades de se imaginar narrativas individuais e coletivas na arte contemporânea brasileira.

O 37º Panorama da Arte Brasileira do MAM São Paulo aconteceu numa data emblemática, o bicentenário do que se convencionou chamar de Independência do Brasil e o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Esses dois acontecimentos, que se entrecruzam ao longo da história do Brasil, deixaram legados e uma série de questões que reverberam até hoje na sociedade brasileira. A partir da produção artística contemporânea, seria possível decantar os vínculos do Brasil com sua herança colonial levando em conta as dimensões históricas, políticas e estéticas da Independência do Brasil e do modernismo.

Diversos artistas que produzem desde o final do século XX e início do XXI problematizam em suas obras, a partir de perspectivas contemporâneas e de suas próprias origens e referências, discussões que perpassam a história brasileira desde o período colonial até o presente. Essas obras pulsam como brasa sob as cinzas de uma terra devastada, que começou a ser destruída com a colonização portuguesa, com o extermínio e a exploração dos povos indígenas e a escravização de mulheres e homens arrancados da África.

Entre as intenções do Panorama 2022 está a de contribuir para a desconstrução de certos olhares e paradigmas naturalizados, assim como do legado colonial do Brasil. Avessa à noção moderna de progresso, a curadoria desta edição enfatiza as ruínas e as barbaridades de um país que sequer conseguiu cumprir as promessas básicas de uma sociedade economicamente moderna e integrada.

A partir de uma teia curatorial com trabalhos de artistas de diferentes gerações, regiões e identidades étnico-raciais e de gênero, o 37º Panorama valoriza a dimensão pedagógica da arte, construída em parceria com o Educativo do MAM. A forma não se opõe à vida social e política, a própria arte possui papel formador e pode prospectar rupturas e estimular debates e reflexões em diversos públicos.

A experiência com a arte pode retomar nossa capacidade de projetar o futuro, de imaginar utopias, já que estamos no meio da catástrofe tentando apagar incêndios – e incendiando símbolos coloniais. Para algumas sociedades arcaicas, o futuro está justamente no passado, na relação com os ancestrais, ou seja, distante da visão vanguardista moderna de estar à frente do próprio tempo. Enquanto as brasas queimam sob as cinzas, diversos artistas recontam histórias, propõem diálogos a partir de suas próprias vivências, de suas origens, repertórios, da terra, do barro, da borracha, do desenho, de objetos cotidianos, da tinta e da tela, do vídeo, de narrativas, de histórias, da arte, de mapas, de bandeiras, de monumentos e de corpos.

A brasa que se esconde sob as cinzas, sob a terra arrasada, sob as ruínas desse projeto de país, ainda arde. Assim como ainda persiste a lógica colonial e o pensamento retrógrado, também há resistência e ação. Isso quer dizer que se a brasa ainda está consumindo o que resta, o que não foi queimado, ela também pulsa como força transformadora. E as cinzas, como se sabe, podem ser usadas como adubo para a arte e para tudo o que ainda irá florescer nessa terra.

Cauê Alves
Claudinei Roberto da Silva
Cristiana Tejo
Vanessa Davidson

Artistas participantes:
Ana Mazzei, André Ricardo, Bel Falleiros, Camila Sposati, davi de jesus do nascimento, Celeida Tostes, Éder Oliveira, Eneida Sanches e Tracy Collins (LAZYGOATWORKS), Erica Ferrari, Giselle Beiguelman, Gustavo Torrezan, Glauco Rodrigues, Jaime Lauriano, Lais Myrrha, Laryssa Machada, Lidia Lisbôa, Luiz 83, Maria Laet, Marina Camargo, Marcelo D’Salete, No Martins, Ricardo Lucena, RodriguezRemor, Sidney Amaral, Tadáskia e Xadalu Tupã Jekupé.



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Durante o período emblemático do bicentenário de independência do Brasil, o Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe a partir do dia 23 de julho o 37° Panorama da Arte Brasileira – Sob as cinzas, brasa, que propõe desconstruir paradigmas naturalizados em relação ao Brasil colônia. Em contraponto, neste ano, também é celebrado o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, marco para o modernismo brasileiro que trouxe um novo e amplo cenário cultural, com artistas de distintas regiões do país.

Com grupo curatorial diverso, composto por Claudinei Roberto da Silva, Vanessa Davidson, Cristiana Tejo e Cauê Alves, o 37° Panorama enfatiza as pesquisas que resultam em questionamentos e possíveis soluções artísticas surgidas do enfrentamento de um cenário onde a barbárie está manifestada de diversas formas. Ideais de civilização se atritam na busca da dimensão plural sobre as questões trazidas à tona a partir de obras que se relacionam tanto pela condição comum deste cenário quanto por uma diversidade de perspectivas, sendo seus autores de diferentes gerações e identidades étnico raciais e de gênero.

A mostra valoriza a dimensão pedagógica da arte e prospecta rupturas estruturais. Ainda em um mundo pandêmico, o Panorama propõe investigar como os artistas enraizados no Brasil têm enfrentado os múltiplos problemas causados pelo modelo de desenvolvimento adotado nos últimos séculos.

A curadoria se baseou em signos que interligam de maneira sutil à brasa, como símbolo de resistência e também de ambiguidade, trazendo uma diversidade de pontos de vista e pesquisas.